segunda-feira, 14 de maio de 2018

Coluna de Mário Antonio. (Direto de Tramandaí)

O futebol do Texas à beira do precipício
I.
O grenalismo é a forma degenerada e patológica da grenalização, o espírito de emulação entre dois clubes provincianos de futebol que, por causa dela, têm seus nomes inscritos entre as maiores instituições do futebol mundial.
A maior vítima do grenalismo é o próprio futebol, atingido muitas vezes no próprio espírito esportivo que carrega e o faz uma forma de encontro entre pessoas de todo o mundo sem qualquer outra relação que não seja o gosto por ele.
A fraternidade em torno do futebol não está fundada apenas no espírito de competição, mas também na sua expressão da ideia de exaltação à beleza das habilidades físicas e mentais de atletas e à superação de seus próprios limites impostos pela natureza e pelas regras do jogo. 
Infelizmente, há muitas outras vítimas fulminadas pelo grenalismo. Entre elas está a notável história de grandes personagens do futebol praticado no Rio Grande do Sul, onde se mantém em atividade há mais tempo no país um clube dedicado a esse esporte, o Sport Club Rio Grande, prestes a cumprir 118 anos de fundação.
Neste sentido, merece todos os aplausos o grande esforço de recuperação e preservação da história do Imortal Tricolor que vêm sendo conduzida pelo titular deste espaço, baseadas no inestimável trabalho profissional do historiador Daison Santana.
Esta têm sido a vertente mais luminosa do blog que se propõe a ser uma trincheira de “resistência contra a IVI”, no que, aliás, nesse sentido estrito, vem sendo dia a dia cada vez mais bem-sucedido. 
No entanto, ao ampliar e aprofundar essa linha de atuação historiográfica, o Corneta do RW aumenta muito seu alcance ao seguir certa máxima que chega ao nosso tempo oriunda de séculos de sabedoria acumulada por homens dedicados a melhorar as condições da existência humana: “a melhor maneira de combater o mal é procurar progredir com energia na direção do bem. ”
II.
O grenalismo conseguiu superar até o regionalismo, o dito orgulho gaúcho, a ponto de não reconhecer que nasceu em Porto Alegre um dos jogadores mais brilhantes e queridos pelas torcidas e pelos colegas futebolistas de todo o mundo em todos os tempos, Ronaldinho Gaúcho. 
Torcedores do SCI e ivistas de todas as facções não lhe concedem o devido reconhecimento por ter surgido e se destacado nos quadros do Imortal.  Grande parte dos gremistas o renegam por ter sujeitado o clube a uma suposta "deserção" profissional quando seguiu para brilhar na Europa e, no retorno ao país, por uma largamente alegada "traição", à exposição ao deboche pela torcida rival.
Todavia, mesmo quando considerados este e muitíssimos outros precedentes, é possível que estejamos testemunhando neste momento a maior atrocidade já praticada pelo grenalismo contra o futebol gaúcho. 
Estamos à beira do desperdício de uma grande chance de, para além dos títulos internacionais já conquistados, lançar os dois maiores clubes do estado, para o mesmo pódio mundial, ainda que em degraus mais baixos, que um dia foi ocupado pelo Santos de Pelé e Mengálvio em decorrência da prática de um futebol que foi, e ainda é, alvo da paixão de milhões de torcedores mundo afora.
Caso estivesse em voga a grenalização e não sua degeneração doentia, o grenalismo, o SCI, seus torcedores e a íntegra da IVI, estariam empurrando seu clube do coração a buscar o modelo de futebol exercido pelo Grêmio de Marcelo Grohe, Luan, Geromel, Arthur, Maicon e Renato Gaúcho, em vez de estarem saudando o resultado obtido no grenal 416 por meio da utilização de todos os recursos nefastos do futebol do Texas, incluídos os volantes mordedores, a ortodoxia da cartilha do SINPOF, os calções sujos de barro e um árbitro “demasiadamente humano” avaliado com parcimônia pela CIA.
Mas por que esta pode vir a ser “a maior atrocidade já praticada pelo grenalismo”?
Simplesmente porque jamais, em tempo algum, nunca dantes nos gramados, campinhos, potreiros ou areiões em que se joga futebol no Texas se viu um time abdicar num clássico local do próprio princípio texano de “jogar por uma bola” e, para isso, fincar o “centroavante aipim” do seu próprio lado do campo a fim de evitar perder de goleada.