"Um século injustiçado. Texto publicado na Zero Hora de ontem, 03/02/2012.
Faça uma experiência antropológica. Perca um pouco do seu tempo e “navegue”pela internet. Assista ao que é mais assistido e leia o que é mais comentado nas chamadas "redes sociais”. Você ingressará em um mundo sombrio, uma espécie de pré-humanidade, onde não interessa o conteúdo, onde não existe reflexão, o que importa é a sensação. O que vinga é a velocidade e a superficialidade. O que faz sucesso faz sucesso apenas porque faz sucesso.
Pergunta: por que milhões de pessoas acessaram o tal vídeo da "Luíza está no Canadá”?
Resposta: porque milhões de pessoas acessaram o tal vídeo da "Luíza está no Canadá”.
As pessoas se ofendem por causa de times de futebol, descobrem conspirações políticas embaixo de cada acento circunflexo e tecem interpretações de texto que independem do que está escrito. É como se o homem tivesse descido um degrau da escada evolutiva, como se tivesse sido rebaixado de nível. Você se perguntará o que está acontecendo com as pessoas, jogará suas mãos para o céu e bradará:
– Senhor! Em que valhacouto de semianalfabetos se transformou o século 21?
Mas você estará errado. Estará cometendo uma injustiça com o século 21. O século 21 não trouxe mudança alguma. Por um motivo rasteiro:
Porque as pessoas sempre foram assim. Eis uma das obras mais admiráveis da internet: a exposição do lado obscuro do homem comum. Com a internet, as pessoas estão desprotegidas de suas próprias opiniões. Elas tornam público o que pensam sem nenhum filtro, muito menos o da própria reflexão. Antes do advento da internet, não eram muitos os indivíduos vitimados por suas opiniões. Expunham-se alguns jornalistas, alguns artistas e algumas "autoridades”. Só esses propalavam bobagens em público. O mundo parecia mais sensato. Não pela qualidade; pela quantidade.
Mas a tecnologia das comunicações foi se sofisticando. No fim do século 20, com a facilidade da interatividade, leitores não apenas liam, escreviam; ouvintes não se contentavam em ouvir, queriam falar; telespectadores não se limitavam a assistir, faziam tudo para aparecer. E, por fim, a internet surgiu e, numa ânsia de se expressar, todos passaram a falar, a escrever, a dançar, a cantar, a declamar, a discursar, a representar e a propagar suas ideias. Todos têm ideias, uma tragédia. Assim, o mundo do século 21 parece ter se transformado num lugar infestado de idiotas. Ilusão. A diferença é que antes as pessoas estavam protegidas pelo silêncio.
E esse é o grande ensinamento a se tirar disso tudo: o silêncio é uma bênção. O silêncio protege. Portanto, não repita bordões da internet, não tente ser sábio em 140 toques, não publique intimidades no Facebook. Fique quieto. Você parecerá mais inteligente."
Estréia da nova página de David Coimbra (08/04/2012).....
"Consultório Sentimental do Professor Juninho
Para a nossa nova página, vamos retomar o Consultório Sentimental do Professor Juninho. Na primeira seção, vou usar um e-mail que recebi ainda esta semana. Quem quiser contar seu problema e beber dos sábios conselhos do Professor, escreva para o e-mail da página. Aí vai o primeiro drama:
“É o seguinte: meu marido não me procura mais. Faz quase um ano que não... fazemos nada, se é que você entende o que quero dizer. Não sou feia, sei disso porque noto como os homens me olham na rua. Tenho 32 anos, malho na academia, corro e emagreci seis quilos neste ano. Estou bem, juro, mas acho que ele não sente mais atração por mim. O que devo fazer?”Jovem Triste
O PROFESSOR RESPONDE:
– Querida Jovem Triste, há um remédio infalível. Chama-se: adultério. Sabe aquele vizinho do quinto andar que vive esticando o olhar para as suas pernas, quando você está de minissaia? Dê bola para ele. Repoltreie-se com ele. Sinta os eflúvios emanados por um homem que a deseja, sinta o prazer de ser cobiçada, vista-se de forma a açular a vontade dele e, finalmente, espadane e se refocile no pecado. Seu marido perceberá. E vai mudar. Nada torna um homem mais atencioso com uma mulher do que saber que sua mulher tem a atenção de outros homens."
“É o seguinte: meu marido não me procura mais. Faz quase um ano que não... fazemos nada, se é que você entende o que quero dizer. Não sou feia, sei disso porque noto como os homens me olham na rua. Tenho 32 anos, malho na academia, corro e emagreci seis quilos neste ano. Estou bem, juro, mas acho que ele não sente mais atração por mim. O que devo fazer?”Jovem Triste
O PROFESSOR RESPONDE:
– Querida Jovem Triste, há um remédio infalível. Chama-se: adultério. Sabe aquele vizinho do quinto andar que vive esticando o olhar para as suas pernas, quando você está de minissaia? Dê bola para ele. Repoltreie-se com ele. Sinta os eflúvios emanados por um homem que a deseja, sinta o prazer de ser cobiçada, vista-se de forma a açular a vontade dele e, finalmente, espadane e se refocile no pecado. Seu marido perceberá. E vai mudar. Nada torna um homem mais atencioso com uma mulher do que saber que sua mulher tem a atenção de outros homens."
Há alguma diferença do tipo dos textos que circulam na internet?
RW postado as 23:59 07.04.2012