domingo, 18 de janeiro de 2015

O Caso Arrascaeta.(Enviado por Lenio Streck)





O caso Arrascaeta: Das ficções da realidade à realidade das ficções!
                                                                                                              Lenio Luiz Streck
Um antigo professor meu ao tempo do mestrado sempre dizia para termos cuidado com as ficções. De tanto fazermos ficções e vivermos ficções, há um determinado momento em que já não separamos a realidade daquilo que é ficção. Isso faz com que confundamos as coisas.  É como estarmos mergulhados no mito. Quem está no mito jamais pode dizer “estou no mito”. Porque o mito envolve tudo. Mitifica-se a realidade. E já não se separa o joio do trigo. Aliás, existem momentos em que essa separação é "bem" feita: fica-se com o joio!
O “caso Arrascaeta” bem demonstra isso.  Mitificou-se o jogador. E mitificou-se o negócio, a compra. E ficcionou-se a “coisa”. Transformaram tudo em uma narrativa. O fato – sim, fatos existem – já não importava. O que importava é a versão acerca do fato. Mais: o que importava era a notícia que mais agradaria a torcida e ao repórter pessoalmente, no seu afã de dizer não dizendo. Ou seja: todo integrante da IVI diz sem dizer. Quando não diz algo, diz um monte. O silêncio é sempre eloquente.
Provavelmente o negócio “Arrascaeta” já de há muito estava bichado. Isto é: o fato estava claro. Mas como em tempos de pós-modernidade só existem narrativas, é possível dizer qualquer coisa sobre qualquer coisa. Resultado: onde os fatos apontavam para um lado, as narrativas de bem-querência apontavam para outra.
Por isso, muita atenção daqui para a frente: quando a IVI joga pesado dizendo que determinado jogador do Grêmio é bom demais, temos que fazer uma leitura muitíssimo cuidadosa: aí pode ter coisa. Pode estar iniciando um processo de transformação do fato em uma mera narrativa. Pode até não ser sempre assim, até porque por vezes, os fatos são tão fortes e duros que não há narrativa que resista. Aliás, perguntaram para Freud se o charuto que fumava não era um tiro no pé porque poderia significar um símbolo fálico e ele respondeu: “- Meu filho, as vezes um charuto é só um charuto”. Pois é. As vezes os fatos dão no rim das interpretações. Saludo!
PS : Vamos cuidar com o Lincoln. Melhor é blindar o menino contra os elogios em demasia. De todo modo, também devemos avisar ao Felipão que o menino não precisa saber chutar com o pé direito. Se Lincoln é bom, é bom. Por que colocar defeitos? Aliás, quando Promotor de Justiça em Itaqui fui ao clássico 38 (14 de Julho x 24 de maio). E o comentarista da Rádio Cruzeiro dizia: João Carlos lança bem, chuta com os dois pés, tem bom preparo físico, visão de jogo...mas não é um bom jogador! Putz. Como assim?  Larguei o jogo e fui para casa!