PERDÃO, LARA.
Estou indignadíssimo. Sim, amigos, tomei a coisa como ofensa pessoal. Pode parecer exagero, mas recebi a excrescência que o Manteiga Behs escreveu à guisa de coluna como se ele tivesse insultado um membro da minha família. Como aquele isento vermelho ousa sujar o nome de Eurico Lara? Sim, Srs., porque comparar o rapazote que se acidentou (isso acontece) e fraturou o dedinho ao nosso ídolo que DEU A VIDA pelo Grêmio, é de uma aberração sem tamanho.
Com efeito, Danilo terá lá seus incômodos mas é só. O que quer o boquirroto “jornalista” isento? Sujar a memória de Lara? Inventar um “novo ídolo” colorado? Porque essa coluna dele não tem qualquer sentido ao dizer que jogar com a patinha dolorida tornará um goleiro medíocre uma lenda à altura do nosso Craque Imortal.
Em setembro de 1935, cardiopata, recebeu as ordens médicas para não atuar. Fê-lo mesmo assim e veio a jogar todo o primeiro tempo, fechando o gol. Debilitado, igualmente, pela tuberculose (há controvérsias sobre isso), foi internado naquele mesmo dia e veio a falecer no dia 06 de novembro daquele mesmo ano. Lara jogou dezesseis temporadas no Grêmio, de 1920 a 1935. Realmente, um feito inigualável, em um tempo em que o Atleta realmente se identificava com o clube. Não é um jogador aparecido ontem e que amanhã estará em outro lugar, como é o caso do atual arqueiro rubro. Ora, Amigos, qual a intenção verdadeira de Behs, senão tentar arrumar uma desculpa para os vermelhos para amenizar uma possível derrota, se vier a ocorrer (caso a performance da arbitragem humana deixe a desejar)? Ou, ainda, tentar forjar um argumento para fazer a federação, novamente, distorcer e rasgar o regulamento da competição (o ruralito é a única competição do mundo em que o visitante terá direito a mais ingressos que o mandante, como prova a distribuição de ingressos para o jogo em Caxias), permitindo a inscrição espúria de outro goleiro?
Por que mais me indigno? Porque Lara fez parte das histórias que ouvia na minha infância. Não o vi jogar, evidentemente, mas meu avô, Moysés Guberman, viu. Teve a oportunidade de, pessoalmente, vê-lo atuar em diversas ocasiões entre 1925 e 1934, como não cansava de contar, em ocasiões em que ele viajava de Bagé a Porto Alegre e, na capital, não perdia uma oportunidade de ir assistir a um match, como se dizia então.
Lara e meu avô eram contemporâneos; nosso goleiro era de 1898, meu avô, de 1895. Quando se falava com o meu querido avô sobre qualquer goleiro, de qualquer época, a resposta era inequívoca: “não chega aos pés do Lara”, e, invariavelmente, seguiam-se relatos de feitos extraordinários do nosso Lara. Meu avô era uma enciclopédia sobre vários assuntos, y compris o futebol, mas sobre os goleiros, sabia mais do que tudo, sem qualquer exagero. Uma vez, para provocar (porque, no fundo, eu sabia a resposta), perguntei-lhe quem atuara melhor, Lara ou Yashin? Fitou-me longamente e respondeu: “Lev Ivanovitch Yashin era um goleiro fenomenal, o melhor de seu tempo, assim como Eurico Lara era o melhor do Rio Grande do Sul, do Brasil e do Mundo à sua época. Entre um e outro? Lara. Por quê? Simples: porque era nosso, era de Alma gremista.” E era profunda a mágoa que meu avô tinha da CBD por terem preterido Lara na convocação para a seleção brasileira. Esse sentimento pelo Lara, como muitíssimas coisas positivas, herdei do velho Moysés Guberman, pelas mãos de quem conheci, por exemplo, o Olímpico, em 1976, aos quatro anos de idade. Não vi o Lara jogar, por razões óbvias, no entanto, os relatos do meu amado avô eram tão vívidos e eloqüentes que sinto como se tivesse visto as atuações do único jogador brasileiro que foi imortalizado no hino de um clube, e com todo o mérito: “Lara, o Craque Imortal/ Soube o seu nome elevar/ Hoje, com o mesmo ideal/ Nós saberemos te honrar”.
E uma das maneiras de honrá-lo é refutar com veemência tamanha Behsteira, é colocar o Leandro Manteiga em seu lugar, junto com as criaturas isentas que pululam na imprensa esportiva gaúcha e que querem, a todo custo, manchar a história gremista e dourar a pílula colorada; isso é a quintessência da IVI! Entenderam por que tomei como uma injúria pessoal a coluna do Isento Behs?
Com toda a honestidade, alguém acha que, daqui a oitenta anos, haverá quem se lembre de Danilo e sua partida com dedinho inchado? Ele só tem e terá lugar de destaque no pavilhão de heróis fabricado pela IVI, o mesmo lugar por que já passaram Barbie, Mão-de-Alface, Vítima do Mazembe e outros goleiros anódinos que mancharam suas carreiras no clube B.
Desta maneira, Srs., conclamo todos os gremistas, todos aqueles que têm alma aguerrida e copeira, que levam no coração o azul, preto e braço, que repudiem essa comparação ofensiva e exijam, como eu já fiz, uma retratação. E eu digo desde já: isso não ficará impune.
Mudando de assunto, quero dizer que estou muito satisfeito com a repercussão da coluna que escrevi denunciando, novamente, Novelletto e suas manobras para permanecer na presidência da federação gaúcha e sua violação deliberada ao Estatuto da Federação (artigo 31). Há grupos de gremistas que, independentemente de qualquer atitude da direção atual (e creiam, gremistas, a direção tomará medidas, está apenas aguardando passarem as finais do Ruralito para que não seja acusada de estar fazendo isso por despeito), estudam ingressar com uma ação judicial. Aplausos a eles. Só isso fará que as coisas mudem na Província: agir!
Por último, meus amigos, vocês terão um alívio por duas semanas, não precisarão aturar-me. Empreenderei uma viagem a partir de hoje (por isso a coluna mais curta essa semana) e não terei como ter esse contato com vocês; o que lamento, porque escrever nesse espaço muito me apraz. Assim, a coluna voltará a partir do dia 25 de maio.