A OFENSA E A
INJÚRIA
A
semana foi pródiga mais uma vez. Claro que o dois pontos altos da semana foram
o Jogo do Imortal na quinta-feira e a edição extraordinária da Coluna na
segunda-feira. O quê? Os Srs. esperavam que o lamentável incidente acontecido
em Fortaleza no jogo entre Ceará e inBer fosse considerado por mim como “ponto
alto”? Não, meus amigos, foi um ponto baixíssimo, como sói acontecer para as
bandas do aterro Phipha. A notícia acerca da injúria racial de Victor Cuesta –
se confirmada pelas devidas instâncias - foi de uma tal gravidade, de uma tal abjeção,
que me fez tornar a esse tema tão espinhoso quando eu já tinha anunciado,
durante a semana, que falaria do Presidente Isento da FGF. Não falarei, no
entanto, dele hoje, em que pese ele seguir violando o artigo 31 do Estatuto da
Federação Gaúcha. Ele terá de esperar, imaginando-se ao abrigo dos olhares de
todos enquanto não chega a hora dele protagonizar, durante o Ruralito, as
lamentáveis manobras que todos conhecemos. Haverá tempo de lhe tomar
satisfações, caro Francisco. Hoje, porém, falarei não das injúrias em si, mas
do comportamento dos próceres da IVI em relação a tal fato.
Vamos,
antes de prosseguir, ao contrário do que faz a IVI que, quando se trata de
casos do Grêmio, já condena incontinenti. Nós daremos o benefício da dúvida.
Afinal, todos são inocentes até que se prove o contrário. É o que diz a lei e
manda a prudência. No entanto, tal máxima, um dos sustentáculos do Estado de
Direito e das Democracias, é sempre espezinhada quando se trata do Grêmio. Voltemos,
porém, ao caso da alegada agressão de cunho racial de que teria sido vítima
Elton. Há indícios de que ela tenha tido lugar, evidentemente. Por exemplo, o
jogador não negou categoricamente, disse, em entrevista, que houve “xingamentos
com respeito”, sabendo-se lá o que ele quis dizer com isso... Evidente que,
tampouco, isso é admissão de culpa. Quero, portanto, fazer logo e desde já duas
ressalvas: primeiramente, como já tinha dito acima, o texto da coluna tem como
escopo não o jogador, mas o comportamento da imprensa vermelha perante o fato
e, em segundo lugar, sempre que mencionar o incidente, tenham em mente que
ainda se aguarda a conclusão do que aconteceu e não se está aqui afirmando que
ele fez ou deixou de fazer alguma coisa. Estamos, a esta altura, na esfera das
conjecturas sobre o ato, mas nas certezas sobre a hipocrisia e maniqueísmo no
que diz respeito à IVI e suas reações.
A
injúria perpetrada por Victor Cuesta não foi “resposta inadequada” ou algo
feito “no calor do jogo”, conforme, no Parque dos Dinossauros, deu-se a
entender (e sempre se referindo a ela como “suposta” ou “se aconteceu”). Até
porque injúria houve (lembrem o que o jogador disse em entrevista), não se sabe
ainda se racial. Ofender alguém é grave por si só. Ofender alguém em razão de
sua etnia, religião ou sexualidade demonstra, primordialmente, uma falta de
inteligência de fazer corar a mais burra das amebas. Prova, ademais, que a
humanidade não falha nunca em decepcionar-nos. Ora, meus caros, se provado o
cunho racial, como pode, um jogador estrangeiro, por si só uma minoria, ofender
um brasileiro, ofender um outro ser humano, em decorrência de sua cor? Em pleno
ano de 2017! Isso demonstra que o Sr. Cuesta, se não for racista no âmago, é
estúpido n’alma! Tenho verdadeira ojeriza a pessoas preconceituosas. Vindo da
onde vem, então... Comezinho é o espírito que habita o ser de quem ofende ou
injuria com base em epítetos racistas, seja lá quem for. Sem medo de exagerar,
usar um expediente tão rasteiro demonstra que, no lugar onde deveria haver um
cérebro, há uma enorme placa de “aluga-se esse espaço”.
Diante
de tão grave fato, pensei logo na terça-feira, a reação dos jornalistas da IVI
seriam imediatas... Se pautasse minhas expectativas pelo que eles fizeram no
caso Aranha, veria textos enormes pedindo a exclusão do clube do aterro da
série B. Caso, de pés no chão, decidisse esperar suas reações de acordo com o
que foi feito com o caso Fabrício ou da mãe do Paulão, sabia que viriam coisas
ridículas por vir. Ridículas são o mínimo que posso dizer. O mais grave, porém,
é que elas não são meramente ridículas, elas são perigosas e expressão de
arrematado maniqueísmo: a quintessência da IVI, em suma.
Quando houve o lamentável e reprovável incidente na Arena, Diogo Pipoca foi um dos mais aguerridos acusadores do Tricolor. Apontou-nos o dedo e disse-nos racistas. "Os Gremistas são racistas. O Grêmio é racista e o clube tem de ser punido de forma exemplar". Foi o mínimo que ele escreveu. O Pipoca foi a um programa no SporTV, literal e histrionicamente, gritar pela punição ao Grêmio. A torcedora identificada, sem qualquer vínculo com o clube, mas ele pediu punição à instituição. Nem uma palavra sobre o RS ser, como um todo, racista. Era um problema de gremistas. Ponto final.
E quando aconteceu com o inter? Ah, aí a coisa é diferente. Por exemplo, Diogo Pipoca omitiu-se quanto ao caso da Mãe de Paulão. Juremir Perdido na Vida Machado escreveu, ridiculamente, que o “RS é racista”.
Como ele, para salvar um mínimo de aparência, não podia minimizar o incidente com a mãe do jogador vermelho (condenável totalmente, diga-se de passagem), aparentemente ele condenou, mas meteu uma condicional canalha: "se" o paulão for à polícia, "se" ele reclamar etc., o inter deve ser punido. Somente se. E como todos sabemos que não houve qualquer atitude de Paulão, o que Juremir quis dizer é que a atitude não era condenável de per si, apenas "se" o ofendido reagisse... A mais pura lógica-cachorra!
E
esse mantra usado então é reiterado agora. Não por Juremir que, até pelo que
sei, nada escreveu sobre isso no caso do Elton. Mas por Wianey Soneca Carlet
que, em coluna na sexta-feira, pediu punição “pesada” ao Cuesta, mas tratou de
defender o inBer. O mesmo Wianey que exigia que o Grêmio servisse de exemplo,
agora obtempera quando o caso é na casa do nosso ex-rival (estou aqui
homenageando VamuVamuInberMeneghetti e sua coluninha mequetrefe em que pediu
arrego na corneta). E Diogo Pipoca? Silêncio eloqüente o dele em relação ao
clube. Meu velho e gremista avô, Moysés Guberman, sempre me dizia: “há
silêncios eloqüentes e palavras mudas, surdas e vãs”. Pois bem, é o caso.
Não vi e sigo esperando a intervenção de Pipoca, o justiceiro Olivier, exigindo
que se faça o exemplo com o clube. Afinal, um jogador, em partida oficial, teria
injuriado racialmente o adversário. Claro que o clube tem que ser
responsabilizado. Não é minha opinião, mas, sim, estou seguindo estritamente a
lógica da IVI no caso anterior a esse. Reitero, então, que estou aguardando os
brados de Diogo Pipoca, mas aguardarei sentado porque, tal e qual o Jaiminho,
quero evitar a fadiga. Até porque Monsieur Pipoca foi enfático ao dizer que, se
houver prova, deve-se punir o atleta, e só. Foi claro ao dizer que não há
responsabilidade do clube. Fez mais, o ex-rapazote de Abu Dhabi, preferiu
adicionar ofensa à injúria, de vez que, no dia seguinte ao jogo no Rio de
Janeiro em que vencemos o Fluminense, o que fez? Elaborou um arremedo de coluna
em cujo título, assaca sua fealdade em relação ao Miller e diz-lhe “um turista”
no Grêmio, ultimando a coluna-vergastada com um “o Grêmio não merece tal
displicência”. O que o Grêmio não merece é uma harpia amarga e isenta a
agourar-lhe sete dias por semana, Sr. Pipoca!
O
espetáculo de horrores, porém, não terminou aí. Puseram-se, em bando, a acusar
a vítima, a querer desqualificá-la para descaracterizar o crime. Viriato, o
Lhano, defendeu que o Cuesta deveria processar o Elton. Não quis saber o que
aconteceu e não quis esperar o fim das apurações, mas já elegeu o lábaro o qual
seguirá, tudo isso sob a batuta de Pedro Legado, cuja sórdida omissão no
caso só é menos constrangedora que sua umbilical ligação com o presidente da
Federação. Não houve final da apuração, não está provada a ação ou sua
inocorrência, mas foram unânimes em isentar o clube de qualquer
responsabilidade. Ah, que diferença quando houve o caso da torcedora! Não houve
a conclusão do que ocorreu em Fortaleza, mas houve ampla agenda positiva em
relação ao jogador, a indefectível matéria sobre o quão bom moço o jogador é,
mostrando-o procurado por torcedores argentinos em um hotel, o quão simpático
ele foi nas praias de Fortaleza e Maceió, lembrando outro esquadrão de dourar a
pílula, quando houve a cotovelada de William em Miller: lembram-se da matéria
sobre o “novo” William? Pois é...
Outros
repórteres houve, como o Filho do Whisky que Apanha da Torcida em Aeroporto ou Lacerda, que tentam, de modo desesperado, isentar quaisquer
responsabilidades ao clube vermelho do coração e, quando a assessoria de
imprensa do Ceará distribuiu cópia do boletim de ocorrência policial, eles
“questionaram” tal atitude. Curiosa atitude de “repórteres” que preferem indagar e perquirir não o fato, saber se ele
aconteceu ou não, mas, sim, o veículo. Ou seja, condenaram atitudes de
terceiros que eles, como blogueiros e tuiteiros, amiúde tomam. Santa
hipocrisia!
De modo característico, quando os repórteres da IVI vêm comentar (comentários cada vez mais escassos, a medida que a terça passada fica longe. O próprio silêncio é tática recorrente) o que aconteceu no jogo e sobre a atitude do jogador do inBer, eles destacam a suposta atitude dos torcedores do Grêmio e a criticar uns supostos torcedores que teriam ficado "felizes" com o que aconteceu, como a dizer "somos todos iguais". Ou seja, sub-repticiamente, eles insistem na história de que os gremistas são todos racistas. Sim! Provam que não se indignaram com o que aconteceu no caso do então arqueiro santista. Foram anti-Grêmio simplesmente. Por que tamanha seletividade na indignação? Não sejam falsos, partidários e maniqueístas, Srs. da IVI. Em Porto Alegre, Paris, Bagé, Rio de Janeiro ou Kinshasa, honestidade é uma coisa só. O Grêmio ou seus apaixonados torcedores não são racistas. O inBer tampouco o é (seguremos a corneta aqui um pouquinho). Racistas ou injuriadores raciais são pessoas. E essas pessoas têm de ser punidas com todo o rigor da lei, sejam da onde sejam, independente de se reclamar ou não reclamar, de se ir à polícia ou não. Provada a atitude, a punição tem de acontecer. E muito menos se usa o adversário para tentar justificar os seus próprios erros. Fossem algo honestos e profissionais, teriam usado suas colunas e espaços não para falar do Grêmio, mas para condenar incontestável e firmemente o que aconteceu na casa colorada, defendendo o que defenderam antes. Mas eles não o fizeram nem o farão, porquanto são arautos do falso-moralismo, são defensores isentos de um clubismo boquirroto, hipócritas em suma. Note-se, amigos: independentemente de prova, independentemente de se ter acontecido algo ou não, é sintomático o comportamento dos próceres da crônica esportiva gaúcha diante de um fato. Prova-se, uma vez mais, que eles não se importam com a notícia, mas, sim, da onde ela vem e só então é que decidem como reagirão.