segunda-feira, 7 de maio de 2018

Coluna de Mário Antonio.direto de Tramandaí

O cabrito cresceu e virou bode
No milênio passado, um dos mais importantes aprendizados pessoais no período universitário foi saber como era a vida adulta num ambiente de trabalho de uma grande instituição.
Foi nesta época que conheci outro significado para a palavra cabrito.
Qualquer trabalho remunerado que não era desempenhado dentro da universidade e fora do horário de expediente - e, não raro, usando-se de recursos dela, tais como equipamentos ou produtos consumíveis - pelos servidores, incluídos alguns professores, era identificado pelo simpático nome do animal.
A propósito, remuneração é um conceito pacificado no direito trabalhista que - pelo menos, até a “reforma”, como foi chamada a recente descaracterização da CLT - inclui eventuais verbas ou produtos pagos regularmente a um assalariado, além do próprio vencimento mensal. Estão incluídas aí, por exemplo, as gorjetas de garçons e as comissões de vendedores.
Entre estes últimos há, eventualmente, na corretagem de imóveis quando o negócio é de alta monta como pode ser o caso uma grande área rural, uma espécie de acordo tácito da categoria que orienta que, se houver algum tipo de colaboração, não apenas o vendedor final recebe a comissão, ainda que fique com a maior parte, como os eventuais colaboradores durante o processo têm direito a uma participação.
Pergunta-se a estas alturas, com razão, o paciente leitor deste texto que chegou até este ponto: o que isso tem a ver com o futebol?
No futebol-business do século XXI, um jovem e promissor jogador pode equivaler a bem mais do que aquilo que vale um latifúndio para intermediários de negócios de compra e venda de terras no Brasil. Ainda que a negociação seja concretizada por um único agente, há bastante dinheiro envolvido para distribuir parte da comissão aos diligentes colaboradores do negócio feito, por via de regra, com milionários clubes estrangeiros.
Sabe-se que procuradores de atletas, agentes e sócios de empresas de ‘marketing esportivo’ são uma das “fontes” mais importantes dos profissionais de comunicação que atuam no futebol e que há entre estes, como têm apontado as enigmáticas e recorrentes denúncias genéricas sobre a categoria que milita no Texas, aqueles em que os escrúpulos sofrem de alguma atrofia degenerativa.
Ao se juntarem estas pontas e ao se analisar a quantidade de incompreensíveis avaliações positivas e exageradas da qualidade de jogadores muito jovens por parte de “cronistas”, “influencers” e quejandos, chega-se a uma implacável conjectura e desta, a uma inevitável questão: fariam tais profissionais de mídia “cabritos” na área no mercado da bola?
Se assim for, e considerando-se que nem todo negócio da China dá certo, talvez fique mais fácil se entender porque, num intervalo de um ou dois anos, um grande “futuro craque” passe a ser alvo da injustiça de críticas persecutórias, vindas justamente de muitos daqueles que o supervalorizaram e que agora o transformam em bode expiatório do fracasso do clube que não foi capaz de negociá-lo no momento e valores sonhados.
Como diz o titular deste espaço, “é fácil ser Nostradamus no Texas”. Por isso, não será uma grande surpresa se, tal como os bodes expiatórios dos tempos do velho testamento, o moço venha a ser abandonado no deserto.
De certa forma, já foi.  Só falta mesmo ser vendido para algum clube do mundo árabe.
E há no ar um silêncio que constrange, porque que não se ouvem vozes a defender e reconhecer as capacidades já demonstradas por um dedicado e respeitável atleta que carrega nas costas, de forma involuntária, o peso de uma precoce idolatria forçada sabe-se lá por quais razões, e no peito uma medalha olímpica dourada, de incalculável valor para todos que amam o futebol brasileiro.