domingo, 25 de setembro de 2016

Lenio Streck e a IVI

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FALTA UM OMBUDSMAN NA IMPRENSA ESPORTIVA

Lenio Luiz Streck – coluna de hoje de O SUL (com pequena adaptação pelo autor – a Coluna original está em www.osul.com.br
Uma sociedade democrática funciona (melhor) na medida em que possui mecanismos de controle. Contemporaneamente, não é difícil perceber a importância da imprensa, mormente na divulgação dos defeitos congênitos do sistema democrático, como a corrupção. Sem a imprensa, seria mais difícil o trabalho dos agentes responsáveis pelo combate aos crimes em uma República.

Pois bem. Mutatis, mutandis, isso se aplica ao futebol. Quanto mais controle por parte da imprensa, mais condições temos de pressionar os clubes, as federações, etc. Quanto mais imprensa livre, mais condições temos de colocar a boca no trombone.

O problema é quando, indisfarçavelmente, parcela considerável da imprensa torce para um determinado clube, e, com isso, fecha um (ou os dois) olho (s) para o que acontece no futebol. Isso é facilmente perceptível quando se discutem erros de arbitragem a favor ou contra a dupla gre-nal.

Mais: Já há algum tempo, toda a imprensa quedou-se silente com o estilo de apitar de Leandro Vuaden, deixando o jogo correr frouxo e incentivando que jogadores talentosos e franzinos sejam caçados em campo... E Vuaden nunca erra. Sempre é “da interpretação do árbitro”.

Veio a Copa do Mundo de 2014 e o fiasco da arbitragem internacional parece que convalidou a ruindade dos árbitros. Quem assiste aos jogos do brasileirão deve ficar estarrecido com o baixo nível da arbitragem. Apita-se qualquer coisa e receberá o beneplácito dos comentaristas de arbitragem “isentos” e da imprensa em geral, que só chia quando foi o seu clube de coração o prejudicado.

A imprensa deveria fazer o papel de constrangimento aos maus árbitros. Nada justifica o silencio eloquente de fortes setores da imprensa em relação ao péssimo nível dos juízes.  O que falta, efetivamente, é um controle sobre a arbitragem e sobre a imprensa que se omite. Falta mesmo é um observatório da imprensa esportiva. Falta um ombudsman. E paremos com essa bobagem de “isentos” (argh). Precisamos colocar o dedo na ferida. Sem falsos moralismos. Em São Paulo e Rio os jornalistas se assumem torcedores. Por que no Rio Grande do Sul há esse farisaísmo pequeno-bairrista?

Penso que todos os jornalistas sedizentes isentos deveriam sair do armário e, finalmente, poderíamos fazer um censo de quantos são os vermelhos e os azuis. E, então, completar o time que está com menos. Bingo. Para termos uma equiparação, certo? Não como é hoje, se me entendem a ironia.

Há alguns jornalistas que exageram e esquecem que o rádio (falo desse veículo que mais divulga futebol) é uma concessão pública e não se pode exagerar. O ouvinte merece respeito. E quando o ouvinte contesta, é “liquidado” no ar. Alguns veículos de comunicação não conseguem esconder seu clubismo. Um exemplo: Quando Celso Roth chegou ao Beira Rio pela undécima vez, ganhou páginas de louvação. Um jornal gaúcho chegou a este cúmulo, na página 40: MANCHETE DE ZERO HORA da página 40 do dia em que Celso, “O treinador trabalhador”, aplicou o primeiro treinamento
-  “ROTH REVOLUCIONA”. 
Quando a li, pensei: vamos lá. Deve conter alguma coisa bombástica. Roth revoluciona? Teria ele se transformado em um Guardiola? Roth, o Guardiola trabalhador? Ipsis literis, então:
“O Inter começa a ganhar a cara do técnico Celso Roth. O treinador abusou das experiências no CT e fez ao menos cinco mudanças na dinâmica do time. Criou um novo desenho tático e abriu disputas por posições...(...). Seus novos conceitos já começam a ser absorvidos pelo grupo. A ordem é fazer marcação intensa, , desde a saída de bola do adversário no campo de ataque. Roth cobrou rápida transição de bola pelos lados do campo. A todo momento, paralisava o treino e orientava o posicionamento”.
Binguíssimo. Onde está o revolucionário nisso? Quanta bobagem. Os mesmos jornalistas dias depois diziam cobras e lagartos do treinador revolucionário. Entendem? Sem falar no deslumbramento com Roger, que foi transformado em o Roger Guardiola. Pois é. Afundou o Grêmio. No rádio é a mesma coisa. Não há coerência. Noticia cobre notícia. Na quarta-feira o Grêmio conseguiu ganhar com as calças na mão do Atlético. Pênaltis sofridos. Um jornalista postou no seu twiter, dois minutos antes de o zagueiro do Atlético errar o gol:
                

“Grêmio perde, é eliminado e acaba o ano para o clube, na estreia de Renato Portaluppi”.
Pasmem. O jornalista não se deu a pachorra de esperar dois minutos. Preferiu colocar seu clubismo à frente de sua profissão e do respeito que deve haver com os ouvintes e leitores. Logo depois ele fez sumir o post. Mas eu guardei.


Pronto. É isso que eu queria dizer. Como no livro de Lionel Schriver (Precisamos falar sobre Kevin – o menino que atirou na escola inteira no EUA), por aqui “precisamos falar sobre a imprensa esportiva”. Urgente. A propósito: sou gremista. Não escondo isso atrás de uma falsa isenção. É por causa dessa falsa isenção que foi cunhada a expressão “IVI – Imprensa Vermelha Isenta”. Ela é dominante. Ah: e tem também a CIA – Comentaristas Isentos de Arbitragem. Viva o Rio Grande do Sul. Sirvam nossas façanhas... 

                     
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