FALTA UM OMBUDSMAN NA IMPRENSA ESPORTIVA
Lenio Luiz
Streck – coluna de hoje de O SUL (com pequena adaptação pelo autor – a Coluna
original está em www.osul.com.br
Uma
sociedade democrática funciona (melhor) na medida em que possui mecanismos de controle.
Contemporaneamente, não é difícil perceber a importância da imprensa, mormente
na divulgação dos defeitos congênitos do sistema democrático, como a corrupção.
Sem a imprensa, seria mais difícil o trabalho dos agentes responsáveis pelo
combate aos crimes em uma República.
Pois
bem. Mutatis, mutandis, isso se aplica ao futebol. Quanto mais controle por
parte da imprensa, mais condições temos de pressionar os clubes, as federações,
etc. Quanto mais imprensa livre, mais condições temos de colocar a boca no
trombone.
O
problema é quando, indisfarçavelmente, parcela considerável da imprensa torce
para um determinado clube, e, com isso, fecha um (ou os dois) olho (s) para o
que acontece no futebol. Isso é facilmente perceptível quando se discutem erros
de arbitragem a favor ou contra a dupla gre-nal.
Mais:
Já há algum tempo, toda a imprensa quedou-se silente com o estilo de apitar de
Leandro Vuaden, deixando o jogo correr frouxo e incentivando que jogadores
talentosos e franzinos sejam caçados em campo... E Vuaden nunca erra. Sempre é
“da interpretação do árbitro”.
Veio
a Copa do Mundo de 2014 e o fiasco da arbitragem internacional parece que
convalidou a ruindade dos árbitros. Quem assiste aos jogos do brasileirão deve
ficar estarrecido com o baixo nível da arbitragem. Apita-se qualquer coisa e
receberá o beneplácito dos comentaristas de arbitragem “isentos” e da imprensa
em geral, que só chia quando foi o seu clube de coração o prejudicado.
A
imprensa deveria fazer o papel de constrangimento aos maus árbitros. Nada
justifica o silencio eloquente de fortes setores da imprensa em relação ao
péssimo nível dos juízes. O que falta,
efetivamente, é um controle sobre a arbitragem e sobre a imprensa que se omite.
Falta mesmo é um observatório da imprensa esportiva. Falta um ombudsman. E
paremos com essa bobagem de “isentos” (argh). Precisamos colocar o dedo na
ferida. Sem falsos moralismos. Em São Paulo e Rio os jornalistas se assumem
torcedores. Por que no Rio Grande do Sul há esse farisaísmo pequeno-bairrista?
Penso
que todos os jornalistas sedizentes isentos deveriam sair do armário e,
finalmente, poderíamos fazer um censo de quantos são os vermelhos e os azuis.
E, então, completar o time que está com menos. Bingo. Para termos uma
equiparação, certo? Não como é hoje, se me entendem a ironia.
Há alguns
jornalistas que exageram e esquecem que o rádio (falo desse veículo que mais
divulga futebol) é uma concessão pública e não se pode exagerar. O ouvinte
merece respeito. E quando o ouvinte contesta, é “liquidado” no ar. Alguns
veículos de comunicação não conseguem esconder seu clubismo. Um exemplo: Quando
Celso Roth chegou ao Beira Rio pela undécima vez, ganhou páginas de louvação.
Um jornal gaúcho chegou a este cúmulo, na página 40: MANCHETE DE ZERO HORA da
página 40 do dia em que Celso, “O treinador trabalhador”, aplicou o primeiro
treinamento
- “ROTH REVOLUCIONA”.
Quando a li,
pensei: vamos lá. Deve conter alguma coisa bombástica. Roth revoluciona? Teria
ele se transformado em um Guardiola? Roth, o Guardiola trabalhador? Ipsis
literis, então:
“O
Inter começa a ganhar a cara do técnico Celso Roth. O treinador abusou das
experiências no CT e fez ao menos cinco mudanças na dinâmica do time. Criou um
novo desenho tático e abriu disputas por posições...(...). Seus novos conceitos
já começam a ser absorvidos pelo grupo. A ordem é fazer marcação intensa, ,
desde a saída de bola do adversário no campo de ataque. Roth cobrou rápida
transição de bola pelos lados do campo. A todo momento, paralisava o treino e
orientava o posicionamento”.
Binguíssimo.
Onde está o revolucionário nisso? Quanta bobagem. Os mesmos jornalistas dias
depois diziam cobras e lagartos do treinador revolucionário. Entendem? Sem
falar no deslumbramento com Roger, que foi transformado em o Roger Guardiola.
Pois é. Afundou o Grêmio. No rádio é a mesma coisa. Não há coerência. Noticia
cobre notícia. Na quarta-feira o Grêmio conseguiu ganhar com as calças na mão
do Atlético. Pênaltis sofridos. Um jornalista postou no seu twiter, dois
minutos antes de o zagueiro do Atlético errar o gol:
“Grêmio
perde, é eliminado e acaba o ano para o clube, na estreia de Renato
Portaluppi”.
Pasmem. O
jornalista não se deu a pachorra de esperar dois minutos. Preferiu colocar seu
clubismo à frente de sua profissão e do respeito que deve haver com os ouvintes
e leitores. Logo depois ele fez sumir o post. Mas eu guardei.
Pronto. É isso
que eu queria dizer. Como no livro de Lionel Schriver (Precisamos falar sobre
Kevin – o menino que atirou na escola inteira no EUA), por aqui “precisamos
falar sobre a imprensa esportiva”. Urgente. A propósito: sou gremista. Não
escondo isso atrás de uma falsa isenção. É por causa dessa falsa isenção que
foi cunhada a expressão “IVI – Imprensa Vermelha Isenta”. Ela é dominante. Ah:
e tem também a CIA – Comentaristas Isentos de Arbitragem. Viva o Rio Grande do
Sul. Sirvam nossas façanhas...
RECADO SOBRE O PRESS
Pessoal:
O blog tem 5 mil corneteiros-leitores.A corneta é uma instituição.Basta um voto por dia (pelo CPF) e estaremos no Prêmio Press novamente.Obrigado pelos votos que estão nos mantendo entre os semifinalistas.
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