quinta-feira, 19 de abril de 2018

Carlos Nobre (Por Mario Antônio)


Saudades do grande Carlos Nobre
“O futebol gaúcho tem saudade de Carlos Nobre e eu também.”
Rubem Hoffmeister, ex-presidente da Federação Gaúcha de Futebol.
De repente, aflorou uma enorme saudade de Carlos Nobre e seu extraordinário e múltiplo talento, compartilhado diariamente por quatro décadas e várias gerações de brasileiros, em especial gaúchos, que o admiraram muito e de forma incondicional.
Nobre exerceu, sobretudo, ao longo daqueles anos, sua enorme capacidade de fazer humor zoando com todos e tratando com bonomia e civilidade aqueles que, eventualmente, se sentiram atingidos por suas blagues.
Diz-se que o “Rúbis”, como ele chamava o autor da epígrafe deste post e uma de suas vítimas preferidas, em certos momentos teria se sentido ofendido e, por isso, deixou de ser fustigado nos espaços diários do humorista. Entretanto, teria “perdoado” Nobre e, por duas vezes, pedido para voltar a ser citado porque começava a se sentir esquecido pelo público.
Gremista, desde o início de sua carreira, no rádio, fazia rir muito com temas do futebol, tendo criado o programa “Campeonato em Três Tempos”, onde interpretava o personagem Greminho, no final dos anos 50.
Carlos Nobre zoava Chico e zoava Francisco, além do Rúbis. O acervo zelosamente compilado e preservado pelo Museu Carlos Nobre e compartilhado pela rede em www.carlosnobre.com.br, comprova com inúmeros exemplos esta prioridade do humor sobre as querelas provincianas entre azuis e vermelhos.  A propósito, um de seus filhos foi assessor de imprensa do departamento de futebol do SCI por dezesseis anos.
Com seu estilo inconfundível, Nobre ensinava, sem pretender e sem qualquer tom professoral, como se pode cornetear os torcedores de outro clube, provocando riso em vez de humilhar ou agredir o outro.
Dirigentes de clubes e juízes também eram alvo de seu humor brilhante e acessível, e uma de suas frases sobre o jogo de bola ecoou no Paraguai outro dia, quando o Imortal enfrentou o  Cerro Porteño:    
Certos juízes de futebol deviam atuar de luvas pra não deixarem impressões digitais”.
Sem embargo, o tema deste blog é a resistência à insuperável IVI e como não podia deixar de ser, foi ela o gatilho desta súbita saudade.
Ao ouvir um pequeno trecho do programa da IVI da Orfanotrófio no horário do almoço, me dei conta: não se trata de um debate sobre futebol, mas de um programa de humor!
Muito sem graça, é verdade; às vezes, de mau humor; mas, só pode ser uma tentativa de fazer humor, pois um ou outro ponto de debate sobre futebol fica esmagado por grosserias, bravatas, intrigas pueris e muita, muita, bobagem por parte da bancada de dinossauros que lá foi acolhida, incluído um tiranossauro, já chamado aqui, em outros momentos, de “valente da fronteira”.
Os poucos jovens profissionais que não foram expurgados do horário, ou que eventualmente atuam como substitutos, são tratados ironicamente de “sub 20” e a única jovem da bancada é obrigada a ouvir, de tanto em tanto, jorros de discurso sexista e inconveniente.
Há tempos me disciplinei a ler exclusivamente nas redes sociais as repercussões da atuação da IVI,  a ouvir apenas a rádio do Grêmio, que, desafortunadamente, só transmite em dias de jogos e um ou outro horário daquela que era a rádio mais nova e inovadora na área do futebol mas que, à medida que acolhe os veteranos degredados das outras sedes da IVI, se transforma numa imagem no espelho que envelhece vertiginosamente.
As saudades de Carlos Nobre, que teria completado 89 anos neste abril, também fizeram lembrar que era ele quem assinava a última página do maior jornal de Porto Alegre e que foi herdada por Paulo Sant’Anna, agraciado aqui no Corneta do RW com o título honorífico de “Gênio da Padre Chagas”.
Dizem por aí, pois - data venia, Zeca Pagodinho! -  nunca li, nem engoli, só ouço falar, que, por achincalhe do destino, a página por onde se começava a ler o jornal nos tempos de Nobre e Sant’Anna, "caiu" nas mãos vulturinas do tudólogo Schoppenhauer Coimbra...
As lembranças do tempo em que o rádio fazia rir de alegria em vez de desprezo e o caldo de chorume da IVI nestes dias em que a esquecida gangorra favorece o Imortal, aviventaram um dos impagáveis conselhos de Nobre, que se enquadra perfeitamente como um recorrente autoquestionamento quanto à persistência neste “hobby de Sísifo” do RW, que seguimos e apoiamos.

“Não maldiga os passarinhos. Saia de baixo, pô