A longa espera por Martha Gleisch
Certa feita, em decorrência de críticas INTERNAS feitas pelas coberturas jornalísticas da inauguração da Arena do Grêmio e da reforma do Estádio Beira-Rio, a editora-chefe do jornal Zero Hora, Martha Gleisch, escreveu um artigo afirmando que a cobertura dada ao Grêmio e ao Internacional é E-XA-TA-MEN-TE igual.
Minha nossa!
Desde que eclodiu o caso dos e-mails adulterados utilizados pelo Inter para tentar escapar do rebaixamento (e rebaixar o Vitória) que eu não consigo parar de pensar na pobre da Martha Gleisch. Será que ela continua acreditando na igualdade entre o vermelho e o azul nas páginas de ZH?
O que se viu (ou não se viu) nas páginas de Zero Hora foi uma tentativa de esconder o caso, que poderia até suspender as atividades do Inter por período determinado, eliminando o time do Campeonato Brasileiro da série B, com consequente rebaixamento para a série C. É a pena mais grave que um clube do futebol brasileiro já correu o risco de sofrer. E digo mais: bateu na trave, pois o Internacional foi CONDENADO e ficou a um passo de ter suas atividades suspensas! Teve seu nome lançado no rol dos culpados. Os documentos utilizados foram, comprovadamente, adulterados. A pena pecuniária aplicada saiu baratíssima. Como um fato de tamanha relevância não recebeu o destaque merecido nas páginas de ZH?
Agora, compare a diminuta cobertura realizada nesse caso com a atitude incendiária promovida pelo mesmo veículo de comunicação no caso Aranha, onde a pena prevista seria a de perda de pontos. São coberturas E-XA-TA-MEN-TE iguais?
O clamor popular fomentado pelo grupo RBS no caso Aranha foi inversamente proporcional à “Operação Abafa” realizada no maior julgamento da Justiça Desportiva envolvendo um clube gaúcho. No caso envolvendo o Grêmio, Zero Hora foi até o Rio de Janeiro entrevistar o polêmico Paulo César Caju, em matéria de capa, para colocar lenha na fogueira. No caso do Inter, o auditor responsável pelas investigações veio do Rio de Janeiro até Porto Alegre para investigar o ocorrido. Trouxe consigo informações preciosas sobre as falsificações. No entanto, Martha Gleisch não mandou ninguém entrevistá-lo.
Durante o caso Aranha, o colaborador da RBS Diogo Olivier foi o carro-chefe, o abre-alas, o mestre-sala e o porta-estandarte do pedido de “punição exemplar” ao Grêmio, escondendo seu coloradismo sob o manto do combate ao racismo. Comportamento diametralmente oposto ao verificado no caso dos emails falsificados. Pediu que o “Caso dos Documentos Falsificados”, que ele, erroneamente, chama de “Caso Victor Ramos”, fosse esquecido, e que se virasse essa página, para o clube focar apenas nos resultados de campo.
Para os que argumentam que racismo e falsificação de documentos são coisas diferentes, gostaria de deixar claro o objeto da nossa comparação: “a cobertura dada a importantes julgamentos esportivos”.
Se quisermos comparar a cobertura dada a casos de racismo, temos que lembrar como o jornal Zero Hora cobriu o Caso Aranha e como encobriu os acontecimentos racistas ocorridos no Beira-Rio. Qual o destaque dado ao torcedor que chamou o jogador Fabrício de macaco? Aos relatos de que a mãe do zagueiro Paulão sofrera nas arquibancadas em razão da cor de sua pele, e que causaram demonstrações públicas de descontentamento do jogador? E os casos envolvendo funcionários e seguranças? E as denúncias de racismo feitas pelo comunicador Luciano Potter? Pautas natimortas nas páginas de ZH, que só ficamos sabendo por conta das redes sociais (que Martha Gleisch não deve acessar, pelo visto).
A editora-chefe também disse: “Claro que esse equilíbrio está condicionado aos fatos, pois não brigamos com a notícia.”. Ninguém espera que a Zero Hora brigue com a notícia. O que queremos é que a ZH não as esconda, como nos parece ter escondido ultimamente. Luis Henrique Benfica já declarou em programa de rádio que não divulga fatos “por respeito à direção do Internacional”. Respeito que ele não tem com a direção do Grêmio. E isso gera desequilíbrio na competição entre os clubes, pois cria e alimenta crises de um lado, e apazigua crises em potencial de outro.
À época, Martha Gleisch encerrava assim sua infeliz coluna:
“E quanto a mim? Confesso: não sou chegada a futebol, embora lá em casa torçam para o Inter. A minha torcida maior, sempre, é pelo jogo justo, sem violência, sem racismo, e com uma cobertura equilibrada.”
Não tem tido sorte a Martha Gleisch nas suas torcidas.
Conforme ela mesma relatou, seus chefes e a sua casa torcem para o Inter, que está chafurdando no inferno da segunda divisão.
O jogo justo perdeu para o jogo sujo, de uso de documentos falsificados para auferir vantagens indevidas.
A violência segue seu trottoir, em especial a de uma torcida que depreda seu estádio, interrompe partidas devido à brigas, distribui pedradas nas arquibancadas, entra em conflito dentro e fora de estádios, arremessa cadeiras para dentro do campo, invade residências por causa de um drone, provoca arruaça e agressões no Trensurb, quebra carro do preparador físico, destrói posto de gasolina, humilha pais na frente dos filhos, humilha mulheres torcedoras de outras equipes, ... UFA ... e ainda recebe o rótulo de ‘alvissareiras” por parte dos poderes públicos constituídos que deveriam zelar pela segurança, sem uma vírgula de questionamento por parte da imprensa.
O racismo, usado como arma para punir o Grêmio, corre livre e solto quando ocorre no Beira-Rio. Fabrício e a mãe do jogador Paulão que o digam. O colaborador colorado Luciano Potter foi o único, dentro da RBS, a denunciar o racismo no estádio colorado, e recebeu um gancho como resposta. Espero que seu afastamento temporário não tenha sido ordem da Martha Gleisch.
E a cobertura equilibrada? Essa então, nem se fala. Qualquer um desses fatos acontecidos e não noticiados no Beira-Rio gerariam páginas e mais páginas de críticas escritas em tinta azul, semeadura de crises e pedidos de punição na Arena.
Portanto, não é preciso ser “chegado em futebol” para perceber que há desequilíbrio nas coberturas feitas pela ZH. Não são coberturas E-XA-TA-MEN-TE iguais. E essa distorção vista nas páginas do maior jornal do sul do Brasil acaba tendo reflexos dentro de campo. Influencia julgamentos na esfera desportiva (que podem tirar mandos de campo e pontos de equipes), na imagem dos clubes, no “jogo limpo”, nas arrecadações, na violência nos estádios, no aparecimento de crises e brigas políticas internas nos clubes, etc...
Porém, há o outro lado da moeda. Cada vez mais os leitores percebem o que está acontecendo e passam a optar por coberturas mais equilibradas. Resta saber se Martha Gleisch está atenta ao que está acontecendo. Continuarei esperando.
Ricardo A -Conhecido como corneteiro da papoula
http://cornetadorw.blogspot.com.br/2014/01/aconteceu-no-brasileiro-de-1997.html
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