O INESQUECÍVEL ARTILHEIRO*
por Aldo Votto
Na tarde do domingo em que se cumpriam trinta e cinco dias da conquista do tricampeonato pela Seleção Brasileira de futebol, um menino de nove anos de idade era levado pela primeira vez para assistir uma partida de futebol profissional ao vivo, no estádio.
Filho de um tempo em que o pátio da escola, o quintal, calçadas e terrenos baldios eram os lugares preferenciais de brincadeiras e convívio com outras crianças, o guri já tinha adotado um time da cidade para torcer, mais por influência da rua, portanto, do que da família.
Naturalmente, era aquele maior vencedor no ano em que tomou consciência da existência e organização do esporte.
Órfão de pai, foi o irmão mais velho, torcedor do tradicional adversário, que o conduziu e acompanhou àquele prélio, como diziam os locutores da época, pelo campeonato gaúcho de 1970 entre Grêmio e o Esporte Clube Cruzeiro.
A partida foi no estádio Olímpico, no horário “quebrado” adotado naqueles tempos, às 15h30min.
Com a camiseta do Grêmio entraram em campo, entre outros, alguns atletas de quem ele conhecia os nomes por causa do rádio e da TV de quem, como toda criança, adotava o seu preferido como cognome na hora de jogar bola.
O dele, embora fosse canhoto, era o do ponteiro-direito que jogaria com a camiseta número sete naquela tarde: Flecha. Nascido em Porto Alegre, no ano de 1946, Gilberto Alves de Souza, seria convocado pela seleção nacional alguns anos depois.
Mas naquele time estava também o grande Everaldo, já estrela na bandeira; o catarinense Ari Hercílio; o “Fita Métrica”, Sérgio Lopes; Loivo e Volmir, que cederia lugar ao longo da partida ao legendário Alcindo.
Demorou. E deve ter demorado muito mesmo, pois “quando a gente é pequeno, o tempo custa pra passar”, para que o gurizote visse o que tanto esperava. Foi só depois da metade do segundo tempo que um dos atacantes do Imortal Tricolor, o menorzinho, chutou uma bola na direção do gol e houve uma vibração dentro e fora do campo que ele acompanhou, sem entender muito bem.
O Grêmio marcava e determinava o resultado que duraria até o final da partida: 1 x 0.
O guri voltaria para casa contente, mas levemente frustrado porque o arremesso certeiro não batera nas redes. José Luis Barreto validou o gol porque a bola passara alguns bons centímetros da linha, antes que o goleiro do Cruzeiro a puxasse de volta para dentro da área pequena.
Quase cinquenta anos depois, aquele menino feito homem porque “também a gente pode crescer”, tem o privilégio da oportunidade de agradecer a quem lhe deu de presente, naquela longínqua primeira vez no estádio Olímpico, aquela imensa satisfação.
Por favor, receba do fundo do coração do guri e do veterano, meu muito obrigado João Severiano; Joãozinho, meu artilheiro inesquecível.
*Fonte de consulta: Gremiopédia (https://www.gremiopedia.com/wiki/Ficha_T%C3%A9cnica:Gr%C3%AAmio_1_x_0_Cruzeiro-RS_-_26/07/1970)