terça-feira, 17 de julho de 2018

Everaldo Marques da Silva por Leonardo Radaelli

Canal do Daison
18 h
Com referência no episódio #3 de A Biblioteca do Grêmio com Daison Sant’Anna (https://youtu.be/oH3IcY4UQ_Q), o jornalista Leonardo Radaelli escreveu um texto sobre Everaldo, o lendário lateral gremista.
A ESTRELA NA BANDEIRA DO GRÊMIO
Da Copa do Mundo do México à eterna referência na bandeira do Grêmio. Everaldo escreveu uma história digna de uma estrela. Em meio ao período que vivemos, a lembrança do lendário lateral gremista vem à mente e remete ao sucesso do passado e ao pioneirismo de um jogador gaúcho, que, ao conquistar o mundo, colocou o futebol do estado no mapa do mundo.
Para chegar ao mundial de 1970, caminhou por uma estrada longa. Oriundo da base do Grêmio, desenvolveu-se como jogador na Baixada. Entre os anos de 1962 a 1964, atuou em categorias inferiores do Tricolor. Sua estreia com o manto foi em 62, na equipe de base, quando o clube enfrentou a Seleção Gaúcha. Para adquirir experiência, foi emprestado ao Juventude no ano de 1965. Em Caxias, vestido a camisa verde e branca, chegou ao vice-campeonato gaúcho. Com boas atuações, voltou para casa para escrever uma história com a eternidade.
Retornando à capital, conquistou espaço no grupo titular. Além de boas atuações, começa a acumular títulos. Entre 1966 a 1968, três títulos gaúchos. Ainda em 1968, conquista a Copa Rio da Prata. Everaldo não era mais um menino da base. Após três anos no grupo principal do Grêmio, era o líder técnico de uma equipe que crescia nas competições caseiras.
As atuações do atleta chamaram a atenção do Brasil. Em meio à preparação para a Copa do Mundo do México, foi chamado pelo técnico Zagallo. Ganhou espaço. As performances consolidaram o jogador e ele foi chamado ao mundial. Em 1970, o Brasil tinha um esquadrão. O comandante conseguiu harmonizar um grupo repleto de craques. Pelé, Tostão, Jairzinho, Gerson, Rivelino, entre outros. Em prol do bem da Seleção, os jogadores, com características semelhantes, se adaptaram a novas funções táticas em campo, tendo em vista a busca pelo título. No meio deles estava Everaldo. Com a camisa 16, o gremista era uma peça fundamental na engrenagem da equipe. Em um coletivo com valores ofensivos, foi a segurança e a eficiência defensiva. Na campanha de seis jogos, participou de cinco. O atleta só ficou fora no confronto das quartas-de-final contra o Peru. Contra a Itália, na final, veio a consagração. Brasil tricampeão mundial.
Everaldo conquistou o mundo. Sua volta a Porto Alegre foi de comoção geral, com direito a muita festa e carreatas. Em suas mãos, ele carregava uma réplica da taça Jules Rimet. A cidade parou para aplaudir o tricampeão. Everaldo não era mais apenas um jogador, era a história.
Para homenagear o feito, o Grêmio aderiu uma estrela em sua bandeira em homenagem ao atleta. Conforme o historiador Raimundo Bordin, falecido em 2008: “Em 1970, foi fixada na bandeira do Grêmio uma estrela dourada para assinalar a contribuição do Grêmio através do atleta Everaldo na conquista pelo Brasil do tricampeonato do mundo”.
No mesmo ano, foi brilhante jogando o 4º Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o equivalente ao Campeonato Brasileiro, pelo Grêmio. Ganhou a Bola de Prata da Revista Placar, a primeira edição do prêmio, por sua excelente média usando a camisa tricolor. Em sua cotação, nota de 7,83 em 13 jogos disputados. Para contextualiza a performance do jogador, a revista analisou: “O lateral-esquerdo Everaldo Marques da Silva, 26 anos, o líder do time do Grêmio, ganhou a Bola de Prata jogando o mesmo futebol que mostrou na Copa do Mundo: sério e eficiente, mas sempre elegante”.
Apesar da criação de uma relação intensa de nacionalismo ocorrido entre Rio Grande do Sul e Brasil em decorrência de Everaldo na Copa de 1970, coincidentemente, o mesmo jogador serviu de revolta entre o Estado e o país.
Em 1972, dois anos depois da Copa do Mundo do México, o Brasil organizou a Taça Independência. O torneio ficou conhecido como Mini-Copa, pela participação de seleções de todos os continentes. A competição fazia parte das comemorações do Sesquicentenário da Independência do Brasil, sendo realizado no período de 11 de junho a 9 de julho de 1972.
Entre os convocados pelo técnico Zagallo, não estava o lateral gremista, que havia sido tricampeão há dois anos. O fato gerou uma indignação geral do Rio Grande do Sul. Como se fosse uma ofensa vinda da CBD, os clubes e a Federação do Estado se uniram e propuseram um desafio ao Brasil, criando uma seleção regional para disputar um amistoso contra o esquadrão nacional.
No dia 17 de junho, no Beira-Rio, a Seleção Gaúcha, formada por um time misto de Grêmio e Inter, entre eles Everaldo, enfrentou a Seleção Brasileira, que tinha em sua base a equipe campeã em 1970. No maior público do estádio, 103 mil pessoas assistiram o empate de 3 a 3. Naquele momento, Everaldo tinha colocado o Rio Grande do Sul contra o Brasil. Da histeria nacionalista ao inconformismo coletivo.
Everaldo nunca vai ser apenas um personagem do futebol nacional. Ele é mais. A estrela na bandeira do Grêmio representa o personagem que unificou um povo tradicionalmente bipolarizado. A estrela na narrativa contemporânea da história do futebol nacional. A primeira façanha a ser servida de modelo a toda terra.
Fontes: Depoimento de Corneta RW, Revista do Grêmio 1970 e 1971, Revista Placar 1970 e Acervo do Daison.
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