Um
adeus a Jael, o Cruel
Todo esporte coletivo é uma
representação das relações entre fatos e pessoas no mundo.
É impossível destacar alguém como
‘fora de série’, caso não exista a própria série; é impraticável identificar
algo brilhante, se aquilo não estiver num conjunto de opacos; é inconcebível
saudar um indivíduo como um ídolo, senão na circunstância de que ele tenha
estado entre outros tantos que não têm os mesmos atributos.
O futebol é um exemplo conspícuo
e nítido desta lógica irrefutável que ordena e destaca sujeitos dentro de um
grupo.
Pois Jael no Grêmio foi um
daqueles que permitiu que se estabelecessem comparações e valores dentro de uma
equipe vencedora, daqueles que permitem que se reconheçam os fora de série,
brilhantes e os ídolos destes anos tricolores comandados por Renato e Romildo.
Confessemos nós, torcedores do
Imortal, que jamais imaginamos algum dia que levaremos para sempre na memória
afetiva ligada ao futebol tricolor, um golaço de falta contra o tradicional
adversário e uma assistência para um gol de finais de Copa Libertadores da
América, concedidos a nós por Jael, o Cruel.
A avaliação da torcida sobre as
aptidões naturais do avante mato-grossense para jogar futebol não se alteraram
significativamente ao longo de sua estada no clube, a ponto de que ainda se
repete a afirmação de que André é “tecnicamente melhor”, mesmo que este não
tenha dado até agora sequer o equivalente a uma parcela mínima da contribuição feita
por Jael às conquistas recentes do Imortal.
Por outro lado, Jael conquistou
dois reconhecimentos quase unânimes entre torcedores: praticou um futebol muito
esforçado, eficaz e participativo, além de ter demonstrado enorme dedicação ao
trabalho e identificação com a instituição.
Neste momento, em que Jael segue
seu roteiro profissional em busca de melhor remuneração em outro país, cabe uma
saudação especial e um agradecimento a Jael e seu legado ao Grêmio e sua
história. Cabe também, também, o registro de uma constatação estritamente
futebolística.
Jael, até chegar ao clube, era
visto como um tipo-raiz do centroavante aipim, entretanto se despede de Porto
Alegre – além dos quatorze gols e entre erros técnicos que não são possíveis de
compensar apenas com treinamentos e dedicação - com excelentes números de
assistências, jogadas fora da área, enfrentamentos físicos em partidas
decisivas, cobranças de faltas e entendimento com os companheiros de time.
Jael, acima de tudo, com seu
desempenho individual e com a orientação do novo modelo de futebol adotado pelo
Grêmio em anos recentes, finalmente, caçou o fantasma do centroavante aipim e,
oxalá tenha ajudado com isso, a exterminar para sempre as pragas do “pontinho
fora” e do “voltar vivo” dos jogos longe da Arena do Grêmio.
Ganbatte Jael Ferreira
Vieira!