sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Debate sobre a Arena (Guido Votto)

Prezado,

Antes de mais nada, convém deixar explícito que esta mensagem não encaminha um “estudo” de alguém que se inclui entre os que “acreditam que a Arena possa ser viabilizada com a pior média de taxa de ocupação no brasileirão”.

A oferta de “espaço aberto” que fizeste no blog, no entanto, estimulou a reflexão a respeito do assunto e de certo modo autorizou o compartilhamento contigo de alguns pontos que a constituíram.

A premissa básica é que não há uma razão única para a baixa taxa de ocupação da Arena.

No que isso pode ser útil? Ao reconhecer-se que não há apenas uma só razão, talvez seja possível criar e encaminhar soluções mais eficazes para o problema. Ou entendes que a mera inversão de prioridades resolveria a questão? Se tua resposta for sim, podes ficar tranquilo em interromper a leitura neste ponto que, nem de longe, entenderei como uma desatenção e, sim, exclusivamente como uma discordância inconciliável de convicções, o que, por lógica, inviabiliza qualquer debate sobre seja qual for o assunto.

Caso tenhas passado do parágrafo anterior, segue-se a argumentação.

i.                     Como estamos entre colegas, ambos sabemos das nuanças das estatísticas e índices e do seu uso.

a.       Índices são uma representação da realidade, não a própria. A relação entre torcedores e capacidade do local é um índice que, por óbvio, agrava os indicadores dos estádios maiores e, por outro lado, das torcidas em regiões de menor população. Dito de outra maneira: encher o São Januário ou o Maracanã, por exemplo, conta com dois atenuantes. No caso do primeiro, apenas 20 mil pessoas representam 100% de taxa; no caso do segundo, localizado na mesma capital (e isso é importante), as cerca de 90 mil necessárias para atingir-se a mesma taxa, podem provir de uma região metropolitana com mais de 13 milhões de habitantes. Isto é, proporcionalmente, existe lá um estrato da classe média capaz de arcar com os altos preços do futebol da atualidade muito maior que no RS, por exemplo.

b.      Índices desconsideram todas as externalidades inerentes à realidade que representam. No caso da Arena, consideremos entre elas:
                                                   i.      Condições de acesso, em especial, em dias de chuva forte;

                                                             ii.      Facilidade de compra e retirada de ingressos;

                                                           iii.      Alternativas de transporte;

                                                           iv.      Preços de estacionamento;

                                                             v.      Equilíbrio entre jogos em horários piores e melhores por várias razões;

                                                           vi.      Campanha cerrada da IVI quanto aos problemas da Arena e do Olímpico “abandonado”;

                                                          vii.      Administração da rotina do estádio inapta e inepta por uma empreiteira de obras sem experiência na atividade

ii.                   No caso da Arena, desde a inauguração - ressalvadas algumas situações peculiares em que a condição de mandante foi exercida em outro estádio - os números são os seguintes (fonte: Gremiopédia):

temporada

nº de jogos
[mandante]

2018

36

2017

37

2016

38

2015

35

2014

34

2013

35



O que se pode depreender daí?

Ainda que muito (a mais, provavelmente) importante possa ser, como entendes e tendo a concordar, a declaração por parte do clube de que o Brasileirão é a terceira competição em prioridade no planejamento da direção, os seus dezessete jogos ao ano representam cerca de metade da metade do total de partidas por temporada. Isto é, se supostamente for solucionada a questão dos jogos do campeonato nacional, ainda restará buscar aumentar a taxa de ocupação nos outros 50% das outras competições. Não aparenta ser pouca coisa.

Em resumo, a adoção do Brasileirão como primeira prioridade pelo clube é uma condição necessária, quiçá sine qua non, para a viabilização da gestão própria da Arena, entretanto, não parece ter a capacidade de garanti-la por si só.

 Então, convém levar em consideração que, como quase sempre, não há soluções singelas (no sentido de singulares) diante de problemas complexos. A saída geralmente tem mais chance de estar na elaboração de uma estratégia que englobe múltiplas intervenções, inclusive algumas delas pontuais e eventuais, e que preveja um acompanhamento minucioso e frequente para possibilitar a avaliação periódica da necessidade de novas intervenções até que se alcance uma rotina estável de bom desempenho.

Algumas linhas de atuação que me ocorrem, caso o Grêmio assuma de fato a administração da Arena:

1.       Elaborar uma política de preços de ingresso, consideradas as limitações impostas por federações e confederações, e dar máxima divulgação possível entre associados e torcedores;

2.       Avaliar a possibilidade de assumir parte das questões de urbanização relativas ao entorno da Arena na forma de convênio com a Prefeitura;

3.       Adoção imediata do sistema de check-in para compra e retirada de ingressos;

4.       Elaborar uma política de preços do estacionamento próprio, incluído um estudo de possibilidades de participação no aproveitamento de áreas públicas e privadas utilizadas hoje como estacionamentos informais e dar máxima divulgação possível entre associados e torcedores;

5.       Ampliar a atuação, com argumentação técnica de trânsito, segurança, clima, estatística de procedência dos torcedores (soube, informalmente, que à época do projeto a maior parte adviria da Região Metropolitana) nas instâncias possíveis (TV, patrocinadores, federações, etc.) quanto a datas e horários de jogos;

6.       Campanha publicitária na linha “A Arena é nossa! ”, para amenizar o constrangimento imposto atualmente à torcida com o bordão “não tem estádio” e outras estultices do grenalismo doentio reverberadas pela IVI;

7.       Avaliação do “benchmarking” (anglicismo asqueroso para dizer ‘copiar os melhores’, pqp!) de administração de estádios no país e no exterior para adoção gradual, segundo um plano de implantação de curto, médio e longo prazo.

Neste quesito me ocorre a seguinte pergunta: será possível diminuir custos fixos e de manutenção e ao mesmo tempo aumentar a taxa de ocupação fechando e abrindo setores do estádio conforme a competição e o período do ano?

Enfim, prezado, penso que, em decorrência da tua defesa incondicional do clube contra as barbaridades e desvarios diuturnos da IVI, tens toda a autoridade do mundo para questionar publicamente a gestão do Imortal quanto à Arena e outras matérias.

Espero que, de algum modo, esta mensagem seja entendida por ti como um apoio à tua conduta de gremista engajado e que possa contribuir para as tuas próprias análises e ponderações sobre o tema.