quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

O Texas contra Guardiola (Leonardo Radaelli)

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Manchester City venceu o Liverpool. Guardiola derrotou Klopp. Uma aula de futebol. Intensidade nos 90 minutos. Transição, construção e finalização. 
Sobre o jogo, o Texas não assistiu. Os texanos estão procurando volantes na Copa São Paulo.
No momento, City está quatro pontos atrás do líder Liverpool. Guardiola está vivo na competição, provocando ódio de muitos que desvalorizam o trabalho de um gênio.
Aproveito a narrativa para deitar no divã dos Deuses do Futebol tentando entender o cenário que enfrentamos diariamente. 
Vivemos tempo de muita ignorância e pobreza de ideias. Quem gosta do futebol precisa ter muita paciência. 
Depois de uma temporada mágica em 2017-2018, o Manchester City enfrenta sua primeira turbulência desde a conquista da última Premier League. Nesse cenário, com tom de deboche e oportunismo, o trabalho de Pep é colocado em dúvida. 
Os texanos, amantes da retranca e do futebol para sujar o calção, saem do armário, onde estavam escondidos, para apontar o dedo e duvidar do que é certo.
Em meio às críticas ao catalão, Mourinho é tratado como rei. Desde a classificação da Internazionale contra Barcelona, em 2010, onde a estratégia fez o camaronês Eto'o virar defensor, José Mourinho virou uma referência. 
O feito foi um tiro no pé do português. Enquanto o cenário inglês é dominado por treinadores que valorizam o desenvolvimento ofensivo, o ex-comandante do United regrediu, sendo engolido por uma competição que exige cada dia mais recurso de seus gestores. Mourinho abriu mão da construção para a destruição. O futebol necessita de alicerces. 
Por outro lado, Guardiola mudou o futebol inglês. Isso é o fato. Na temporada passada, o City chegou a histórica campanha de 100 pontos e mais de 100 gols. 
Sobre a façanha, as marcas não ficaram apenas nisso. A equipe foi campeã mais precoce da Premier League, somou o maior número de pontos na competição (100), acumulou o recorde de vitórias fora de casa (15), gols marcados (106) e saldo de gol (79). 
Para quem não acreditava no sucesso do espanhol na Terra da Rainha, os números falam por si.
A certeza é que o treinador caminha junto com a evolução moderna do futebol. E isso incomoda. 
Enquanto esteve no comando do Barcelona, entre 2008 a 2012, a Espanha foi campeã do Mundo. No seu trabalho no Bayern, entre 2013 a 2016, a Alemanha conquistou o treta no Brasil. Na Inglaterra desde 2016, assistiu a seleção nacional chegar ao quarto lugar, algo que não acontecia desde 1990. Nada é por acaso. O rendimento cresce a partir da demanda técnica exigida em cada país. 
Então, por que o Texas não suporta Guardiola? 
Talvez seja o DNA futebolístico.
Pep deixou claro suas duas principais escolas: Holanda de 1974 e Brasil de 1982. As duas seleções não venceram, e isso incomoda uma sociedade resultadista. Outro ponto é o sucesso. Ao longo de onze anos de sua carreira, 27 conquistas em seu currículo. Um costume tradicional é criticar o que está no topo, o que atinge o êxito. 
Difícil entender. 
Guardiola é gênio. Suas marcas estão em seus trabalhos pela Espanha, Alemanha e Inglaterra. O legado é eterno. Como um artista do mundo moderno,  o treinador tem ideia, coerência, desempenho e resultado final. 
Lamento quem prefere a ignorância à arte.
Leonardo Radaelli – jornalista, cineasta, apaixonado pelo Grêmio e apreciador do futebol inglês.