TRICROMOFOBIA AGUDA
Vou-lhes contar uma história. Já ouviram falar da Transnístria? Ela é uma província da República da Moldávia. A Transnístria é uma república autônoma daquele país e tem uma federação de futebol muito prosaica e dois times em Tiraspol, a capital: o Sheriff Tiraspol e o Slobozia. O presidente da federação local de futebol, que vive às turras com o presidente da federação nacional, tem um time do coração do qual, inclusive, é Assessor Especial e parte do Conselho Consultivo e Fiscal. Assim, o Sheriff leva enormes vantagens sobre o Slobozia.
Há anos, então, algumas questões estranhas pairam sobre o futebol transnístrio. Franz Dyeviaty Letto, presidente da federação, ocupa o cargo há dez anos e costuma dizer à imprensa local que segue por abnegação e com o sacrifício de seus negócios pessoais.
O maior jornal do lugar, o Nulevóia Vremyia, abre suas colunas sempre que o isento presidente exige-o e a rádio do mesmo grupo tem sempre repórteres à disposição para laudá-lo.
Recentemente, nas redes sociais, causou furor o fato de o treinador do Sheriff, o presidente da federação e o principal locutor da maior rádio local terem-se reunido na casa do primeiro para um assado de esturjão.
Silêncio na imprensa local.
O único convênio que a federação local fez em todo o decênio foi com uma empresa que fabrica biscoitos de propriedade da família do dito jornalista, Piotr Naslédie, em que pese NINGUÉM na província nunca ter visto ou ouvido falar nos tais biscoitos ou na fábrica!
Mais uma vez, nunca foi objeto de investigação pela imprensa local.
O campeonato local é cheio de lances polêmicos. A arbitragem, infelizmente, erra muito. Várias vezes o presidente reuniu-se com os árbitros antes dos jogos do Sheriff que já conseguiu ser o time mais beneficiado do mundo por pênaltis e erros. Quando o lance beneficia o Slobozia, a Imprensa local junta-se para desconstituir; do outro lado, dizem que é pênalti mesmo quando há simulação confessa!
E a imprensa local? Silencia e é cúmplice.
Neste ano, o Slobozia jogará a Liga da Europa e terá de viajar de Tiraspol até Lisboa para um jogo. São 4.300km. Adivinhem... a FTF ( Federação Transnístria de Futebol) marcou o maior clássico local, entre Slobozia e Sheriff, três dias antes do jogo em Lisboa, notoriamente para prejudicar o Slobozia.
Poderia multiplicar os exemplos: tabela companheira para o Sheriff no campeonato local, poupando-o de jogos fora da capital, em horários sob sol escaldante ou em gramado sintético. O Slobozia não tem a mesma sorte: vive na estrada e submete-se a horas a fio em ônibus.
A maior realização do Nababo dirigente local foi a construção de suntuoso edifício para a sede da federação. A construção custou muito mais que o aceitável e nunca houve auditoria séria nas contas.
O tal presidente é dado a picuinhas e miudezas. Quando da inauguração da sede nova, "esqueceram" de hastear a bandeira do Slobozia.
Os clubes do interior encontram-se abandonados...
A história longa termina aqui. Inacreditável e inaceitável, não é? Como a imprensa não investiga? Como se aceita isso?
Pobre Futebol da Transnístria. Por que isso ocorre? Porque a federação local está apodrecida, maniqueísta e tendenciosa. Seu presidente não possui os mínimos requisitos morais e éticos para conduzi-la, usando-se de seu cargo para benefício pessoal e distribuindo benesses ao seu clube do coração e a uma série de jornalistas que lhe são comensais. E ainda se diga que os jornais locais recebem polpudas verbas publicitárias da federação e das lojas Plurisonido, principal empreendimento do Duvidoso Dirigente.
Ah...
O Presidente atual da FTF é um cancro metastático e uma vergonha para a Transnístria. Resistir a ele é resistir à IMprensa pró-Sheriff (IPS). Combater a IPS é combatê-lo porque o Isento Presidente é inimigo do Slobozia e da verdade.
Ele é anacrônico e é prejudicial ao futebol local que, a olhos vistos, decaiu desde sua ascensão. As histórias acima relatadas foram vistas e vividas por todos. O campeonato local, o Transnistrião, vai recomeçar e, com ele, recomeçarão os erros humanos, os favorecimentos ao grupo do lamaçal, os pênaltis duvidosos, os contratos mal explicados e as verbas que não chegam ao interior.
Nada mudará enquanto Dyeviaty Letto persistir onde está. Repito: ele é anti-Slobozia, sofre de Tricromofobia aguda!
