Daison Santana mostra para os leitores o que aconteceu em 04 de abril de 1.968.Airton saiu do Grêmio.Foi para o Cruzeiro.Todos os detalhes desta bomba que sacudiu o mês de abril estão neste post.
**Jornal Diário de Notícias (quinta-feira, 4/abril/1968) - 2º Caderno p. 6:
"Grêmio e Brasil jogam a liderança da Chave A"
Que "jogão" ! Grêmio e Brasil, hoje à noite, no Olímpico. É chegado o momento dos líderes decidirem quem ficará com o título de campeão da chave e do torneio de classificação. O Brasil, líder isolado, com um ponto na frente, certamente não vai querer perder justamente a última batalha. Uma vitória manterá o time pelotense em supremacia absoluta e inconteste sôbre o hexacampeão gaúcho, fato que, por envolver uma agremiação do Interior, há muito não acontencia em nosso meio.
Uma vitória, dará ao Grêmio a liderança. Um empate, deixará tudo como está e os gremistas deverão se contentar com um vice. Uma derrota, será um desastre. O Grêmio ficará com 3 pontos atrás e ainda terá que jogar domingo contra o Rio Grande. Mas depois da goleada imposta ao Nôvo Hamburgo, os tricolores estão embalados. Ainda não esqueceram que o Brasil foi um dos clubes que não conseguiram vencer. No jôgo, em Pelotas, houve empate. O resultado está atravessado na garganta do hexa que quer ir a fôrra para valer. A direção técnica e alto comando confiam no sucesso da jornada. Os atletas sabem que a vitória é que interessa.
"INTER-CRUZ AGORA VALE MAIS: AÍRTON"
**Foto: A torcida local está de parabéns, pois graças aos esfôrço do presidente Hoffmeister, para quem nada é impossível, voltará ver em ação o maior jogador gaúcho da era profissionalista: o fabuloso Aírton.
Sem dúvida alguma a grande "bomba" no setor esportivo aconteceu ontem, às primeiras horas da madrugada, quando se teve conhecimento da notícia de que o Grêmio havia cedido ao Cruzeiro, por empréstimo, até o mês de dezembro, o passe do zagueiro central Aírton Ferreira da Silva. À zero e 30 minutos, depois de quase duas horas de conferência, deixaram o estádio da Montanha o atleta e os dirigentes do Grêmio e Cruzeiro. Houve acêrto e Aírton, depois de 14 anos no clube tricolor, vestiria outra camiseta: a do Cruzeiro. O craque, que ontem já treinou entre seus novos companheiros, tem presença assegurada no clássico Inter-Cruz do próximo domingo. Será, certamente, um atrativo todo especial ao sensacional encontro que, vencido pelo Cruzeiro, deixará o clube da colina pràticamente classificado para o 3º turno do campeonato gaúcho.
BITTENCOURT — Eis como se pronunciou à reportagem do DIÁRIO o presidente tricolor Hermínio Bittencourt: "Realmente, confirmo que cedemos Aírton ao Cruzeiro. Aírton, um grande atleta, homem exemplar e de larga fôlha de serviços prestadas não só ao Grêmio mas como ao próprio futebol brasileiro merecia esta oportunidade, pois seu maior desejo era voltar a jogar. O assunto teve o seguinte andamento: estávamos na sede, juntamente com o dr. Pedro Pereira quando fomos procurados pelo presidente Hoffmeister. Depois de trocar idéias resolvemos ceder Aírton, gratuitamente, por empréstimo até o fim do ano. Aírton não nos procurou. Nós é que sabíamos do seu desejo de voltar a jogar. E, como no momento êle não estava no plantel, resolvemos facilitar o seu ingresso no Cruzeiro. O caráter de empréstimo significa que, em dezembro, quando retornar (a exemplo de Vieira) Aírton terá seu passe liberado, porquanto nós fizemos êste empréstimo para não negociá-lo porque se isto fosse feito, jamais Aírton seria livre. Fizemos isto no sentido de premiar Aírton. Gostaríamos que todos os atletas do nosso plantel nos dessem o prazer e a felicidade de privar conosco por tanto tempo e com tanto brilho como foi o Aírton. Para finalizar, devo dizer que o Grêmio não ganhou nada na transição feita com o Cruzeiro. Aquilo que, normalmente deveria ser recolhido aos cofres do clube, reverteu em benefício de Aírton"
Obs.: 18 títulos oficiais: Aírton foi Campeão Sul-Brasileiro Invicto 1962; Campeão Citadino 1956 1957 1958 1959 1960; 1964 e 1965; 11 vezes Campeão Gaúcho 1956-1967 [Nesse período, o Inter foi campeão citadino e gaúcho em 1955; campeão gaúcho 1961 apenas]
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GRÊMIO 2 X 0 BRASIL DE PELOTAS
Competição: Campeonato Gaúcho (Campeonato de Ouro) - Grupo A - 2ª Fase (5º jogo)
Data: quinta-feira, 4/abril/1968
Local: Estádio Olímpico, Porto Alegre
Árbitro: José Luíz Barreto
Grêmio: Alberto; Everaldo, Paulo Souza, Áureo e Zeca; Cléo e Sérgio Lopes; Beto, Joãozinho, Alcindo e Loivo; Técnico: Sérgio Moacir Torres Nunes
Brasil: Geóvio, Adílson, Joceli, Moacir e Manoel; Otacílio (Dejanir) e Marcos; Edi, Ênio Souza, Maneca e Torino (João Borges); Técnico: Osvaldo Barbosa
Gols: Loivo 9 do 1º tempo; Beto 15 do 2º tempo
**Jornal Diário de Notícias: "Grêmio bate Brasil, agora é líder: 2 x 0"
Também o Grêmio, a partir de ontem, é líder do certame de classificação, a exemplo do alcançado na véspera pelo seu tradicional adversário. Assim como havia caído nos Eucaliptos a liderança da Chave B, aconteceu ontem a queda do Brasil, até então líder da Chave A. Jogando melhor, embora sem aproveitar todas as oportunidades de gol que criou, o Grêmio bateu ao Brasil, por 2 a 0 e voltou a ocupar a liderança que havia cedido a êste mesmo Brasil, quando caiu diante do Floriano, no tempo complementar daquele jogo inácabado por falta de luz.
Não que o Grêmio tenha realizado uma atuação soberba mas, na verdade, foi o quadro que somou maior número de méritos e o marcador final não espelhou a superioridade territorial, que manteve nos noventa minutos de ações. O Brasil foi uma equipe que caiu de pé. Soube perder, sem apelar para jogadas ríspidas ou menos leais. Demonstrou que possui méritos para ocupar a posição de destaque que alcançou no futebol gaúcho, uma vez que deixou claro possuir condições para saber perder o que, diga-se de passagem não são todos os que atualmente podem ser assim elogiados.
Tanto Grêmio como Brasil podem ficar tranquilos porque estão com suas equipes em perfeitas condições para o campeonato decisivo que se avizinha e do qual sairá o grande campeão de 68, no chamado "campeonato de ouro".
Nos primeiros quinze minutos o Grêmio acionou decididamente, como que desejando marcar logo de início, a fim de evitar supresas, no final. O sistema empregado rendeu efeito imediato, pois aos dez minutos surgiu o gol de abertura do placar, obra de Loivo, atirando surpreendentemente de longa distância, arremêsso que pegou totalmente de supresa o arqueiro Geóvio que, conforme êle mesmo declarou no intervalo, nem viu a bola entrar em sua meta.
Posteriormente, já aos vinte e cinco da fase final, aconteceu o segundo tento gremista, marcado por Beto e que veio trazer tranquilidade para o quadro gremista e, ao mesmo tempo, a certeza da derrota, para os rubro-negros. Uma jogada de Alcindo, próximo ao arco adversário, quando o "bugre" vendo-se cercado por dois adversários, deu verdadeiro "merengue" ao seu companheiro de ponta-de-lança, o qual chutou forte, tendo Geóvio ainda tocado na pelota, sem lograr contudo deter sua trajetória, que seria fatal.
A verdade é que Geóvio, autor de grandes defesas, falhou nos dois lances decisivos e, com estas falhas, facilitou a vitória gremista que, contudo, deveria acontecer sem o auxílio do arqueiro adversário, pois na verdade Alberto passoi pràticamente o tempo todo fazendo exercício para aquecimento, sem maior trabalho na defesa de sua meta.