Estava eu aqui pensando como um determinado jornalista, prócere da IVI, escreveria sobre si próprio. E eis o que resultou:
“Por que tu me criticas? Tenho direito a dar minha opinião isenta! Um dia acordei e vi o mundo de outra forma, vermelho. Agreguei-me a essa cor de maneira atávica e visceral, nada interessa, mesmo sepultando a verdade.
Fardei-me, é verdade. Desmesurado amor que me levou a comemorar gol do Damião em treino e que não me poupou do ridículo extremo de celebrar o futuro gol sonhado de Nilton de cabeça..
Às favas a deontologia. Ao calabouço com a verdade e a coerência. Quer dizer, coerência eu tenho. Vermelho acima de tudo. E relativo, então, é o mundo. As mesmas coisas podem ser diferentemente tratadas dependendo da cor onde aconteceu.
Quando nasceu a Arena eu não tinha o que dizer. Não podia confessar minha estupefação diante daquela obra moderna e um passo avante em Porto Alegre. Tinha muita coisa a falar: dos acessos, da segurança, das rampas e elevadores, da acessibilidade aos cadeirantes, da visão perfeita em qualquer lugar, da quantidade de sanitários, dos estacionamentos, das lojas e restaurantes, dos acessos automáticos, das cadeiras gold e das facilidades. Mas não. Falei de outra coisa. Falei do preço absurdo da pipoca! 5 pilas inteirinhas. Entrei para a história.Criei a crise da pipoca na Arena,
Só que eu relativizo. Quando o Beira-Rio foi entregue após a recauchutagem, eu estava em êxtase. Pouco importa o lamaçal, os acessos improvisados, a falta de acessibilidade, os pontos cegos, as cadeiras em cima de estrados de madeira... não vi nada disso. Na verdade, vi. Só que escolhi nada publicar porque não quis.
Como também escolhi NADA dizer sobre a invasão das áreas públicas e o financiamento das estruturas temporárias. O contribuinte gaúcho pagou. E dane-se.
E o tempo passou. E eu escolhi falar do habite-se da Arena. Louvei a Brigada e seus entraves. Malhei a Geral. O Beira-Rio só teve seu primeiro habite-se agora, a Guarda esteve envolvida em toda sorte de pepino. E eu fingi-me de morto.
Fui um exemplo durante o vergonhoso episódio Aranha. Ignorei as circunstâncias da injúria racial que, por si, era extremamente grave. Ao invés de usar a oportunidade para auxiliar a acabar com isso, preferi ser histriônico. Não perdi uma oportunidade para fazer terra arrasada. Acusei e exigi punição exemplar.
Só que, quando a Mãe do Paulão foi ofendida – ou o Fabrício também – no Beira-Rio, eu contemporizei. A minha indignação era seletiva, entendam.
Em outras palavras: não ajudei o bom debate. Preferi a histrionice.
E os ex-jogadores?
Sou uma pessoa coerente. Passou perto do Olímpico ou da Arena, ficou marcado. Minha expressão preferida é “ex-gremista”. E todos os males do mundo ganham uma tintura triocromofóbica.
Sou coerente, insisto. Não perco uma oportunidade de atacar o Grêmio, meu assunto predileto durante minhas aparições no SporTV, sempre para malhá-lo. E daí inventei, quinta-feira, uma genial: a colocação na tabela relativa e insisto que o Grêmio está perdendo força.
Minha máxima para com o Grêmio é simples: atrapalhe até mais não poder. E por isso propugno o rodízio. O mesmo que eu acusei ser o erro vermelho. Mas...
E eu sou mestre em Grenalizar. Entretanto, se uma das minhas incoerências acima é mostrada por algum gremista, eu grito que tudo se grenaliza na Província. Minha verdade é simples: grenalizar é tudo aquilo que se acusa o inter quando não temos justificativa.
Às vezes, abro a cômoda e tiro lá do fundo um kaffiyeh que comprei naquela bela cidade dos Emirados Árabes em 2010. Ponho-o na cabeça, olho o espelho e escorre-me uma lágrima amarga. Ainda tenho pesadelos com isso.
Prazer. Sou Monsieur Pipoca