Em tempos de "balões" da era do Macho, vale a pena ler a história do "balão otimista".
Era 1977 e o time de Telê Santana não dava balões durante os jogos. As jogadas eram trabalhadas pelos meias Iura e Tadeu Ricci e mais os laterais Eurico e Ladinho. De trás, escapava, como elemento surpresa Ancheta, que tinha vocação de atacante. Mas, também tinha um volante – um volante só – que era o Vitor Hugo, mordedor de garrão dos adversários. Todos ajudavam na marcação, pois o Telê assim exigia, mas o volante era um só e até o chamavam de “rabo-de-vaca”. Quando grudava em um adversário, não largava mais. Parecia um bulldog. E diziam que ele não sabia “lançar”, talvez saudosos do Sérgio Lopes, o famoso “fita métrica”, que era alto, magro, elegante e dava passes milimétricos de 30, 40, 50 metros para os atacantes, não interessava a distância.
Pois o Vitor Hugo, num desses jogos em que o Grêmio trocava passes e entrava na área do adversário com toques rápidos, salvou um lance de perigo na entrada da nossa área, deu um chutão para o ataque e a bola sobrou na ponta-direita para o Tarciso Flecha Negra, que disparou na direção da linha de fundo e cruzou para o André Catimba, que entrava como um bólido pelo meio. Gol do Grêmio, com lançamento do Vitor Hugo.
Estava narrando o jogo e o comentarista era o inesquecível Larry Pinto de Faria. Narrei o gol e acrescentei: depois dizem que o Vitor Hugo não sabe lançar. E passei para o comentarista. Larry, que sempre foi fã do jogo jogado e detestava balões, lascou: desculpe, Bencke, mas não foi um lançamento do Vitor Hugo, foi um balão otimista que, casualmente, chegou no Tarciso e armou o contra-ataque do Grêmio.
Nada mudou de lá para cá, exceto que a marcação “subiu”, o preparo físico aumentou e os espaços no campo sumiram. Mas, sempre sobra lugar para um “balão otimista”. O Larry era gênio da bola e um grande frasista.
Carlos Alberto Bencke