segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Quando B VIRA A (Lenio Streck)

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A IVI E O PRAVDA DO FUTEBOL: QUANDO B VIRA A
Lenio Streck
Pravda em russo quer dizer “verdade”. Na verdade, pravda, jornal do Partido Comunista, era verdade entre aspas, como todo veículo de comunicação oficial o é. Para o Pravda, só tinha noticia a favor do Partido e da URSS. Foi por isso também que George Orwell escreveu “1984”, em que o personagem Winston trabalhava no ministério da verdade destruindo documentos e falsificando notícias do presente e do passado. 
Também no livro Orwell mostra como  o regime estabelece uma novilingua (novafala). Por ela, o Ministério da Guerra era o Ministério da Paz. Bingo. Binguíssimo. E havia o Ministério do Amor. E da Fartura.
Lendo a Zero Hora todos os dias, vejo que a novafala é antiga. Paulo Santana já denunciou essa IVIZACAO (do verbo IVIZAR – tornar tudo IVIZADO, isto é, pravdizar as notícias) nos anos 70. Claro que, de lá para cá, houve um aperfeiçoamento nas “instituições”.
Na “novafala”, segundona virou “transição” e “brasileirão da série B”. Mas, na “verdade”, o B desaparece. Winston abduziu o B. Tudo virou “brasileirão”. Uma vitória contra o poderoso ABC se transforma em 5ª. Vitoria seguida e, pasmemos, a novafala equipara essas 5 vitorias com as vitorias de times da série A.  Na novafala pravdizada, B vira A.
Na ZH de 21 de agosto, a vitória do Inter da B recebeu destaque de líder e de série A. Claro: afinal, Corinthians já é campeão. A série A perdeu a graça, vocifera a IVI. Com isso, o foco é...o brasileirão B, que, no meio da conversa, perde o B. 
Lendo a ZH esportes, lembro do conto A Sereníssima República, de Machado de Assis, em que a palavra NEBRASKA vira CANECA. No sorteio de quem seria eleito presidente, saiu a bolinha com o nome de Nebraska, mas faltava a última letra. Caneca impugnou o resultado. E chamou a IVI da época para explicar porque a vitória era de CANECA e não de NEBRASKA. Leiam o laudo da IVI:
“— em primeiro lugar, não é fortuita a ausência da letra “a” do nome Nebraska. Não havia carência de espaço. Logo, a falta foi intencional. E qual a intenção? A de chamar a atenção para a letra “k”, desamparada, solteira, sem sentido.  Ora, na mente, “k” e “ca” é a mesma coisa. Logo, quem lê o final lerá “ca”; imediatamente, volta-se ao início do nome, que é “ne”. Tem-se, assim, “cané”.  Resta a sílaba do meio “bras”, cuja redução a esta outra sílaba “ca”, última do nome Caneca, é a coisa mais demonstrável do mundo. Mas não demonstrarei isso. É óbvio. Há consequências lógicas e sintáticas, dedutivas e indutivas... Vocês não entenderão. E, ai está a prova: a primeira afirmação mais as silabas “ca” e as duas “Cane”, dá o nome Caneca.”  
Eis o vencedor: Caneca! Bingo! Nebraska virou Caneca. Assim, segundona virou Brasileirão. Simples assim. Óbvio, não?