A INJÚRIA SOBRE OS GREMISTAS E PAULO SANT’ANA
Quiseram aquelas ironias da vida que Paulo Sant’Ana falecesse na mesma semana em que tentaram fazer o Grêmio cair em uma das mais levianas e abjetas armadilhas jamais criadas contra uma instituição que é, sobretudo, o Clube mais amado, democrático, sério, respeitado e plural do Sul do Brasil. É o clube que mais torcedores têm nos três estados do Sul somados, que possui mais de 60% da torcida no Rio Grande do Sul e cuja torcida é a mais fanática do Brasil. Ao mesmo tempo em que é a mais fanática, é a mais perseguida e atacada. E foi nessa semana que o jornalista-símbolo deixou essa vida.
Não queria tratar dos dois assuntos em um só texto. Resolvi, porém, fazê-lo porque não deixa de ser um desafio e, ademais, é sintomático que a injúria grave que nos fizeram essa semana tenha sido contemporânea ao passamento de um jornalista que, se estivesse em sua forma e vigor, teria combatido com todas as forças para que isso não acontecesse.
Muitos textos e jornalistas homenagearam o velho Pablo. Eu, cá nas minhas modestas letras, quero apenas dizer que sentirei falta dele. Claro que eu me irritava sobremaneira quando ele cismava em atacar o Grohe, mas eu prefiro dizer que isso foi um ou outro devaneio, sendo certo que o que prevalecia era o Sant’Ana que se vestiu de baiana para cornetear a coloradagem; era o Paulo que, pilchado no Galpão Crioulo, cantava seu amor pelo Grêmio. E assim que eu me lembrarei e sentirei falta dele, no Sala, quando o Sala era um programa de respeito, não esse circo patético que é hoje, enquadrando os próceres da IVI, dizendo a verdade sobre o Wianey Soneca, mandando o Pedro Legado estudar e por aí vai. Fará falta o nosso amigo que partiu. Sim, porque hoje não há alguém que lhe faça as vezes. Sua morte (como sua saúde debilitada que causou seu afastamento da atividade já o fizera) fortaleceu a imprensa vermelha. IVI essa que não o respeitou na morte, quando, em determinada chamada para texto do Benfica, fora ilustrada com Paulo Sant’Ana emborcando uma garrafa de champanha ao lado do MercenáR10 ou, ainda, uma imagem dele “cantando” o hino do inBer, como se isso tivesse-o feito menos gremista, sem explicar que a imagem era parte de uma matéria em que ele ironizava um vexame dos Beninos da Pe.Cacique. A IVI não o respeitou e usou, em tão triste ocasião, dos mesmos expedientes que usa cotidianamente: distorções, falseamentos e afins. Pablito era maior que eles. Já deixo aqui meu pensamento e reflexão da falta que nos fará. Que repouse em paz.
E em paz ele poderá repousar porque a tentativa de sujar o clube não deu certo. Urdiram uma armadilha sórdida e a explosão que quiseram fazer não passou de um traque molhado. Domingo passado o Grêmio jogou contra a Ponte Preta. O seu goleiro foi cúmplice e ator de um esquema ridículo. Um circo armado, em suma.
Após os lamentáveis incidentes de 2014, o dito jogador já estivera na Arena por três vezes. Ainda em 2014, em 2015 e em 2016. Foi, em todas elas, premiado por sonoras vaias. Vaias, aliás, que são cortesmente oferecidas a todos os goleiros visitantes que, apequenados, catimbam, fazem cera, não deixam o jogo prosseguir e que, em decorrência de suas incompetências atávicas, ao serem derrotados, querem atribuir a culpa não a si, mas aos outros porque, como se sabe, o inferno é sempre responsabilidade de outrem. Nada aconteceu. Vaiaram-no por três anos. Entrementes, foi escorraçado do Santos (onde foi alvo de injúrias gravíssimas, mas nada aconteceu, diga-se de passagem, com o clube ou com os injuriadores) e ainda se mostrou homofóbico durante o Campeonato Paulista. Isso passou em brancas nuvens. Até que ele voltou à Arena domingo passado. E aí as vaias repetiram-se, mas, dessa vez, o tal goleiro resolveu abespinhar-se. Fazia caras e bocas. Durante a transmissão, todas as vezes que tocava na bola, as câmeras focalizavam a Geral e outros pontos da torcida. O goleiro gesticulava, histriônico. Todos viram.
Ao sair de campo após o jogo com três golos na sacola, foi direto ao microfone de Julio Cesar Santos que não lhe perguntou sobre o jogo, mas, sim, das vaias (e hoje sabe-se o motivo: seguia um roteiro) e aí o dito “atleta” resolveu dizer que todos no Sul são assim. Prefiro a versão do Peninha que, em vídeo, disse que o “assim” a que se referia o rapaz era alma aguerrida, valente e vibrante. A verdade, porém, que o jogador quis forçar um xingamento, uma ofensa ou sei-lá-o-que-mais para, de novo, ser manchete. Imediatamente, Alano Quase-Quase e Batista Desmaiado lamentavam as vaias e faziam a ligação com o que aconteceram na Arena três anos antes. Seguiram-se colunas apressadas de vários próceres da IVI, como a do rapazote louro de olhos verdes (ele disse isso na coluna) que apanhou da torcida vermelha condenando a atitude dos torcedores e solidarizando-se com a “vítima de preconceito”. Diogo Pipoca também trouxe das suas, rememorando e condenando... Enfim, estavam tentando levantar a lona para armar o circo.
E aí se descobriu a explicação: havia, na Arena, uma equipe de um programa menor da Rede Globo. Esse programa, estava fazendo uma matéria sobre racismo. Denunciar crimes é algo meritório. Combater preconceito é algo necessário e louvável. Toda pessoa preconceituosa é estúpida. E aqui, para que não me venham a distorcer a intenção, repito o que disse na coluna passada: Tenho verdadeira ojeriza a pessoas preconceituosas. Vindo da onde vem, então... Comezinho é o espírito que habita o ser de quem ofende ou injuria com base em epítetos racistas, seja lá quem for. Sem medo de exagerar, usar um expediente tão rasteiro demonstra que, no lugar onde deveria haver um cérebro, há uma enorme placa de “aluga-se esse espaço”. No entanto, Srs., todos os méritos que pudessem ter, foram apagados pelos expedientes levianos que utilizaram. Sim, porque as reações desproporcionais do atleta explicaram-se por ser ele sabedor que estava sendo filmado, que um dos trechos do programa seria, como disse a chamada da matéria, “a relação complicada com a torcida do Grêmio”.
Ah, fez-se algo de luz sobre aquilo tudo. No meio daquela aparente tempestade que se formava, os Gremistas, justinagem à parte, foram às redes sociais defender o Clube de Todos e exigir respeito. Denunciou-se a armação e a falta de honestidade da produção do programa. Programa que ignorou, por exemplo, no mesmo jogo, as faixas em homenagem ao Everaldo e ao Lupicínio... Enfim, maniqueísmo puro.E a indignação funcionou a contento. A edição do programa foi mudada. A versão que foi ao ar na quarta-feira foi menos sofrível, mas, ainda assim, desonesta. No entanto, a repercussão do tal programa foi NULA, até porque a audiência deve-se limitar a uns poucos familiares deles.
A IVI, porém, entre o jogo e a quarta-feira, quando o assunto feneceu, soçobrando na própria miudeza moral, notabilizou-se por seu discurso canhestro e moralmente pequeno. Juremir Quase Nada Machado chegou ao cúmulo de dizer que os negros que jogaram no Grêmio nos anos 20, 30 e 40 eram “embranquiçados”. Diogo Pipoca, na segunda-feira, ao lado de Leo Gerchmann, estava visivelmente contrariado quando o Leo defendeu, no Redação SporTV o clube e sua torcida. Diogo Olivier foi, uma vez mais, uma ode à indecência. Segue com sua cantilena contra o clube, mas no caso Victor Cuesta, seu silêncio segue retumbante. E aqueles que vieram correndo dar carinho à “vítima”? Os autores de textos emocionados, postos diante do fato de que foram massa de manobra na empulhação, calaram-se. Nenhum deles veio a público retratar-se ou admitir que errou. A misoginia e o machismo de Guto Ferreira e de Mauricio Guinaççççu Saraiva passaram sem qualquer repúdio por esses mesmos paladinos da indignação seletiva.
Sigo dizendo: o Grêmio não é racista. O Rio Grande não é racista. Racistas não são instituições ou estados, mas pessoas. Essas pessoas têm de ser combatidas e punidas na forma da lei. A intolerância e o preconceito matam. A desinformação e a manipulação, também. O que não se pode permitir é que lancem dúvidas infundadas sobre alguém. Calúnia é crime. Nunca é demais lembrar que alguns não conseguem engolir que o Grêmio é o clube de Todos e que somos todos Azuis, Pretos e Brancos. Simples assim. Acaso é racista o clube que foi o primeiro no estado a ter jogadores negros? Racista é o clube que mudou sua bandeira para homenagear um jogador negro?
É imensamente triste ter de, por duas semanas seguidas, falar sobre injúrias raciais e das tentativas maniqueístas de arrastarem nossos nomes na lama. Nome não só do Grêmio, mas, também, de todos nós, gremistas, com o beneplácito e apoio incondicional da IVI. No entanto, estamos imensamente felizes em ver que a tentativa, dessa vez, foi um tiro n’água e o já diminuto goleirinho saiu ainda mais rápido de cena, voltando, todos aqueles que maquinaram essa patranha, a recolherem-se às suas insignificâncias. O Grêmio saiu maior e sua torcida saiu fortalecida, prova irretorquível que nossa ação conjunta e a pressão de todos, pelos meios que forem, funciona. Devemos, sempre, estar atentos e sermos ativos e reativos. Passividade, jamais. E, assim, a semana terminou. Lá do alto, Paulo Sant’Ana, o que sempre levou a ferro e fogo essa veia combativa, está seguramente feliz com o desfecho, deve estar gargalhando a bandeiras despregadas. Descansa em paz, Sant’Ana.
