No milênio passado, um dos mais
importantes aprendizados pessoais no período universitário foi saber como era a
vida adulta num ambiente de trabalho de uma grande instituição.
Foi nesta época que conheci outro
significado para a palavra cabrito.
Qualquer trabalho remunerado que
não era desempenhado dentro da universidade e fora do horário de expediente -
e, não raro, usando-se de recursos dela, tais como equipamentos ou produtos
consumíveis - pelos servidores, incluídos alguns professores, era identificado
pelo simpático nome do animal.
A propósito, remuneração é um
conceito pacificado no direito trabalhista que - pelo menos, até a “reforma”,
como foi chamada a recente descaracterização da CLT - inclui eventuais verbas
ou produtos pagos regularmente a um assalariado, além do próprio vencimento
mensal. Estão incluídas aí, por exemplo, as gorjetas de garçons e as comissões
de vendedores.
Entre estes últimos há,
eventualmente, na corretagem de imóveis quando o negócio é de alta monta como pode
ser o caso uma grande área rural, uma espécie de acordo tácito da categoria que
orienta que, se houver algum tipo de colaboração, não apenas o vendedor final recebe
a comissão, ainda que fique com a maior parte, como os eventuais colaboradores
durante o processo têm direito a uma participação.
Pergunta-se a estas alturas, com
razão, o paciente leitor deste texto que chegou até este ponto: o que isso tem
a ver com o futebol?
No futebol-business do século XXI, um jovem e promissor jogador pode equivaler
a bem mais do que aquilo que vale um latifúndio para intermediários de negócios
de compra e venda de terras no Brasil. Ainda que a negociação seja concretizada
por um único agente, há bastante dinheiro envolvido para distribuir parte da
comissão aos diligentes colaboradores do negócio feito, por via de regra, com
milionários clubes estrangeiros.
Sabe-se que procuradores de
atletas, agentes e sócios de empresas de ‘marketing
esportivo’ são uma das “fontes” mais importantes dos profissionais de comunicação
que atuam no futebol e que há entre estes, como têm apontado as enigmáticas e
recorrentes denúncias genéricas sobre a categoria que milita no Texas, aqueles
em que os escrúpulos sofrem de alguma atrofia degenerativa.
Ao se juntarem estas pontas e ao
se analisar a quantidade de incompreensíveis avaliações positivas e exageradas
da qualidade de jogadores muito jovens por parte de “cronistas”, “influencers” e quejandos, chega-se a uma
implacável conjectura e desta, a uma inevitável questão: fariam tais
profissionais de mídia “cabritos” na área no mercado da bola?
Se assim for, e considerando-se
que nem todo negócio da China dá certo, talvez fique mais fácil se entender
porque, num intervalo de um ou dois anos, um grande “futuro craque” passe a ser
alvo da injustiça de críticas persecutórias, vindas justamente de muitos
daqueles que o supervalorizaram e que agora o transformam em bode expiatório do
fracasso do clube que não foi capaz de negociá-lo no momento e valores
sonhados.
Como diz o titular deste espaço,
“é fácil ser Nostradamus no Texas”.
Por isso, não será uma grande surpresa se, tal como os bodes expiatórios dos
tempos do velho testamento, o moço venha a ser abandonado no deserto.
De certa forma, já foi. Só falta mesmo ser vendido para algum clube do
mundo árabe.
E há no ar um silêncio que
constrange, porque que não se ouvem vozes a defender e reconhecer as
capacidades já demonstradas por um dedicado e respeitável atleta que carrega
nas costas, de forma involuntária, o peso de uma precoce idolatria forçada sabe-se
lá por quais razões, e no peito uma medalha olímpica dourada, de incalculável
valor para todos que amam o futebol brasileiro.