segunda-feira, 7 de maio de 2018

O sumiço da divida (Por Flavio Guberman)

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O SUMIÇO DA DÍVIDA
É muito bom estar de volta após uma viagem longa. Reconhecer a nossa casa, as nossas coisas, rever amigos e as coisas que prezamos. Voltar à rotina também é, de certa maneira, salutar e após uma ausência relativamente longa, eis-me novamente no dia-a-dia e nas colunas.

Durante a semana passada, no último dia do prazo e na duodécima hora, veio a público o balanço e demais informações financeiras do inter que a lei determina que sejam trazidas a público. E então pude confirmar que nada de novo existe sob o sol do Rio Grande com relação à blindagem que a IVI oferecer ao seu clube do coração. 

A maioria esmagadora dos veículos e jornalistas calou-se. Seguiu um silêncio de morte da imprensa gaúcha sobre o descalabro das contas publicadas pelo sci. É um descalabro contábil e administrativo, mas a maioria dos ivistas tão hábeis em “analises financeiras” de outros clubes, calaram-se cúmplices. Outros, porém, foram mais longe: Zini GluGlu Pires, no dia imediatamente posterior à publicação, veio falar nos “números positivos, nos dez últimos anos de faturamento”. 700 milhões em dívidas e o Zini Piaçava no Queixo fala em « crescimento e evolução » de faturamento...

Esse silêncio monetariamente conveniente, porém, guarda algo muito maior, muito mais extenso e perigoso. Se houvesse seriedade no tratamento dessa questão, teríamos algumas indagações e pesquisas, um trabalho jornalístico sério. Raciocinemos: um conselheiro do inter veio, por twitter, dizer que a dívida não é de 700, mas de 830 milhões e que o balanço estaria errado. A imprensa o que fez? Nada. Igual à mãe do Paulão ou ao caso da esposa nutricionista, quiçá não tenham encontrado o autor da frase que afirmou ter provas do que avançara. 

Ignoremos, porém, esse fato e espantemo-nos como a imprensa não foi indagar alguns números que estão no balanço, tais como, por exemplo, a projeção de arrecadação e os pagamentos planejados. Os números estão lá para quem quiser ver. 350 milhões de reais de arrecadação prevista em 2018. Entretanto, há previsões de pagamento de 367 milhões nos mesmos doze meses. Sendo que esses 367 milhões são valores históricos, sem adição de correção ou juros, conforme o caso. Nem um pio, nem um questionamento... Curiosa falta de atividade jornalística no RS, não acham?

Querem outro número que não passa nem a fórceps? A arrecadação dos sócios. O número trazido como oriundo do quadro social, se dividido pelo “tíquete médio”, não alcança nem 80 mil associados, pondo por terra a falácia dos tais 100 mil sócios e das associações diárias e crescentes, tão propaladas pela mídia isenta vermelha do RS.



A conclusão inexorável? O balanço apresentado pelo internacional desmontam as mentiras apregoadas aos quatro ventos nos últimos tempos. A primeira que a arrecadação e/ou número de
sócios vinha aumentando. O balanço demonstra claramente, como dito acima, uma redução nas receitas com os sócios, quadro que somente é compatível pela diminuição de sócios pagantes. Outra que os jogadores vinham jogar no sci por amor! Amor caro, pois as estimativas de perdas em reclamatórias trabalhistas passam de setenta milhões. E qualquer advogado com um mínimo de experiência poderá mostrar que há uma subavaliação neste quesito do passivo trabalhista. Sinceramente, sempre disséramos que por amor sai mais caro. Eis aí a prova. Notem, ainda, a questão da folha. Inchada, paquidérmica e ineficaz. Estão entre os elencos mais caros do brasileirão e caminham a passos largos para a B novamente (oxalá tal aconteça). NEM UM jornalista é capaz de colocar o dedo na ferida e mostrar o descalabro. Até porque se o fizessem, seria uma irrefragabile contradictio, de vez que eles passaram os anos tecendo os mais glamorosos elogios a diversos pernas-de-pau que vestiram a camisa vermelha.

Há, ademais, outro falseamento da verdade que nos querem impingir. Este sobre o abandono do profut e adoção do PERT. Houve microfones abertos nas diversas rádios das facções da Ipiranga e do Morro para um vice-presidente dizer que estava tranquilo e que a troca foi estratégica.  Foi por estratégia que se abandonou o profut e se migrou para outro parcelamento? NÃO! O próprio balanço demonstra que como o prejuízo, que é superior a sessenta milhões, ultrapassa em muito a margem de dez por cento das receitas ou faturamento - no caso está por volta de trinta por cento - a exclusão do Profut era previsível. Analisando os números, salvo ganhar na Mega-Sena acumulada três vezes de enfiada ou o Sonda criar um dinheiroduto perpétuo, o internacional terá mais um ano com grande déficit operacional, de vez que suas receitas não têm possibilidade de incremento e possui uma enorme dívida que iria aumentar em muito com a exclusão do profut. Seu principal patrimônio, o estádio remendado, está hipotecado ao BNDES e se a operação do BRIO não começar a dar lucro – até agora só foi prejuízo - corre o risco de não efetuar o pagamento ao banco. A consequência é a liquidação da garantia! A coisa é bem pior que a IVI conta. 

Interessante. Eles vivem repetindo o mantra de que “o Grêmio não tem estádio”.  No entanto, quem deve os tubos para a BRIO é o pretenso dono do estádio...

Existiria, porém, uma grande vantagem pela exclusão do profut: acabar a transparência, a regularidade das obrigações trabalhistas e tributárias e a proibição de antecipação de receitas, bem como a obrigação de redução de déficits que, seguindo as regras para o ano de 2019, deveria ser de até cinco por cento da receita bruta bem como o cumprimento de contratos e pagamento regular dos encargos a título de salários, inclusive direito de imagem. Ou seja, no profut, o clube tem forçosamente de estar cem por cento em dia com os salários, fgts e direitos de imagem, algo impensável e impossível para o sci. Trocando em miúdos, a saída do profut é boa para quem apresenta uma péssima situação econômica e financeira, para quem tem um caos nas mãos e não tem gestão. Ganha um doce de salmão quem indicar um clube assim ali pelas áreas do Menino Deus.

Há mais, meus amigos. Por fim, o que parece bem grave: o inter só detém trinta e dois por centos dos atletas em formação, vinte e seis por cento dos atletas formados e quarenta por cento dos atletas contratados. Não há como arrecadar dinheiro com venda de jogadores porquanto ele detém a menor parte dos jogadores! Não há, portanto, receita à vista! 

Como podem ver, a situação piorará. Uma verdadeira hecatombe que não vem à luz no RS porque os veículos de comunicação não dizem a verdade, de vez que estão todos infiltrados e aparelhados pela cáfila isenta vermelha que não pode trazer tais pontos à baila de vez que exporia o desserviço de engodos e mentiras das quais eles foram cúmplices e propagadores todos esses anos. Pensem, amigos. Se nós aqui conseguimos essas informações e fizemos esse raciocínio analítico simples, por que os jornalistas treinados não o fizeram?

O fato é que 2018 será muito divertido para nós. Aguardemos as próximas deles, esperemos as novas “tragédias pessoais” e podem ter certeza de uma coisa: o silêncio cúmplice da IVI.