sexta-feira, 14 de julho de 2017

A verdade cortada pelo meio

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Ricardo A (corneteiro da papoula) é um dos colunistas deste blog.
Está trazendo a verdade "cortada pelo meio".
Nenhum gremista esquece de 2005.O Grêmio enfrentou a 2ª divisão vivendo as agruras do pós-ISL.E não teve trégua por parte da IVI.
Vamos escrever mais sobre 2005.Aguardem.Por enquanto aproveitem o post do corneteiro da papoula.
Ao lado do Inter
Salta aos ouvidos a fala de Pedro Ernesto de que a Rádio Gaúcha estará ao lado do Inter na série B, assim como esteve ao lado do Grêmio.  Trata-se de meia verdade. Somente metade dessa afirmação encontra respaldo nos fatos. Estão ao lado do Inter, mas nunca estiveram ao lado do Grêmio.
A começar pela forma como se referem à “segundona”. Em 2005, o Grêmio estava “no inferno da Segunda Divisão”. Frase repetida à exaustão pelo narrador. Hoje, o Inter está disputando o Brasileirão Série B, que chegaram a chamar de “transição para a série A”.
Para o nosso comunicador, o Inter é um time de série A, temporariamente na B. Será Campeão com várias rodadas de antecedência. Não falaram nada sequer parecido quando o Grêmio disputou a segunda divisão. Nunca passaram confiança, só desconfiança. Diziam que o time ia ter que ganhar na camisa, pois os jogadores eram refugos de outras equipes. No momento de maior dificuldade foi quando o clube mais apanhou da imprensa.
Antes mesmo da queda, em 2004, o clube perdeu mandos de campo por objetos jogados no gramado pela torcida. Desde então, cada haste de óculos, cada sanduiche, cada copo vazio caído nos gramados da Arena e do Olímpico, viram manchete. A imprensa pede ao árbitro para colocar em súmula, liga para Procurador do STJD para perguntar se haverá denúncia e sugerir punições, repórteres de campo alertam a arbitragem a cada guardanapo caído no gramado, armam o circo dos horrores para não deixar o assunto morrer na mídia. Nunca estiveram ao lado do Grêmio nesses momentos. Colocavam gasolina no fogo.
Hoje, a torcida do Inter joga cadeiras e rojões no gramado, interrompe partidas por causa de brigas, atira pedras no campo, na própria torcida, nos jogadores, entra em conflito dentro e fora do estádio, depredam o patrimônio do clube, o carro dos funcionários, um posto de gasolina, invadem residência por causa de drones... Tudo isso sem nenhum pedido de punição ao clube. Ninguém liga para o STJD. Ninguém questiona conteúdo de súmula. A palavra ‘interdição’ está proibida nos lados do Beira-Rio.  Se em um lado colocam gasolina no fogo, no outro agem como bombeiros.
Já no decorrer de 2005, quando o Grêmio estava em sérios apuros financeiros, a direção negociou o meia Anderson com o Porto por R$16 milhões. Esse dinheiro era essencial para a sobrevivência do clube. Silvio Benfica, então, entrou ao vivo na Rádio Gaúcha secando, como sempre, a negociação: “Já pensou se os portugueses não pagam, hein? Como fica? Olha o tamanho do problema!”
Mano Menezes, então, era o inimigo público número 1 da Rádio Gaúcha.  Sílvio Benfica, sempre ele, chegou ao ponto de falar, em programa de Rádio, que “iria para o confronto, se necessário” com o técnico gremista. Chamou o treinador do Grêmio para a briga!!! É isso que o Pedro Ernesto chama de “estar ao lado”?
Naquela época, éramos lembrados todos os dias sobre quem tinha dinheiro a receber dos cofres azuis, junto com o valor. Tinga, Fábio Baiano, Danrlei, Zinho, Roger, Anderson Lima. Até Renato Martins. Palmeiras e Corinthians também eram frequentes na mídia. Não bastasse as dificuldades naturais nas negociações com atletas, os dirigentes gremistas ainda tinham que lidar com esses desserviços prestados pela imprensa, secando e tentando atrapalhar os negócios.
Sempre lembrando a penúria financeira, lembravam a dificuldade de montar uma equipe, pois “nenhum jogador quer disputar a segundona”. “Quem vier se arrisca a não receber, pois o Grêmio não tem dinheiro”. Já no Colorado, por outro lado, todos querem jogar, seja por amor, seja porque, afinal, é um clube de série A na B! Ou porque é a chance de fazer história. Não se fala nos atletas que se recusaram a ficar na segunda divisão. Ninguém fala nas dívidas, ou que o clube está com dificuldades para cumprir seus compromissos financeiros, pois isso pode atrapalhar os negócios. Nestes momentos sim a Rádio Gaúcha está ao lado do Inter.
Hoje, só sabemos o tamanho da bronca financeira em que está metido o Internacional através das redes sociais. A Rádio Gaúcha, ao lado do Inter, não toca no assunto. Noticia que as rescisões contratuais são sem custos. Quando não conseguem mais esconder, divulgam valores inferiores aos Reais. Mas a verdade sempre vem à tona. Forlan, Scocco, Anderson, Rafael Moura, Fossati, Diego Aguirre, STJD, ...  a lista de credores é grande. A folha salarial, inchada. E o silêncio da mídia, eloquente.
O melhor resumo do que ocorreu aquele ano é a seguinte entrevista de Paulo Odone à Revista Press, onde ele destaca a falta de apoio por parte da imprensa e o quanto o excesso de críticas atrapalha o desempenho do time dentro de campo:
P.A.: Qual a crítica que mais irritou você?
P.O.: Acho que houve críticas injustas. Nós não tínhamos time e não tínhamos dinheiro, estávamos quebrados. Se era péssimo para o Grêmio, era ruim para o futebol gaúcho, para a mídia. Tínhamos que fazer um mutirão para sair disso aí. “Ah, mas nós somos neutros.” Não são neutros, não, tinha que ajudar. Não digo que se faça o exagero que se fez no Recife, com apoio da Prefeitura, Assembléia, mas eu tinha o contrário: “O time é ruim, é vagabundo”. Para que dizer isso? Talvez aleguem que ajudou a reação, que foi para botar um foguete no rabo do presidente. Mas bota mão-de-obra para não ter que bater boca, não repudiar publicamente e ao mesmo tempo converter isso em energia positiva. As críticas às vezes atingem um jogador que tem que fazer afirmação se ele foi mal. Tinha um jogador aqui de pouco fundamento técnico, pouca capacidade de drible, mas um pulmão e uma raça, todo mundo lembrou do Loivo, que era o Marcel. Foi de uma utilidade tremenda e era síntese desse espírito de superação. Faltou futebol, joga na raça. O coitado custou a se afirmar porque era vaia e vaia. E o cara vem e comenta: “Jogador de segunda categoria, ...”.
Será que Marcelo Medeiros irá fazer esse tipo de declaração no final do ano? Duvido, pois a imprensa está, declarada e faticamente, ao lado do Inter na segunda divisão.
Na Batalha dos Aflitos, no momento da confusão, Pedro Ernesto desancou a avacalhar o Grêmio. Do porteiro ao Presidente. Matou, cremou e enterrou o Clube. Terminou seu raciocínio com a frase “só um milagre salva o Grêmio”. O milagre aconteceu e ele surfou nas ondas do sucesso tricolor. Hoje, só se encontra na internet a narração da cobrança do pênalti em diante. O que ele disse antes, não está em lugar nenhum.
Enfim, são vários os exemplos de que o Grêmio comeu o pão que o diabo amassou na mão da imprensa durante 2004 e 2005. E quem pensa que tudo acabou depois da Batalha dos Aflitos, está enganado. Nos Campeonatos Brasileiros de 2006 até 2010, a imprensa em peso falava que “o campeonato gremista é para não cair”. “O objetivo é alcançar os 46 pontos”, diziam. Uma flauta escondida dentro da sinfonia vermelha nas ondas da rádio.
A Rádio Gaúcha quer ajudar o Inter? O problema é dela! Só não venham me dizer que “estiveram ao lado do Grêmio”. Já caí para o inferno da segunda divisão, mas nesse papo, eu não caio.