terça-feira, 22 de maio de 2012

Migração para Arena- Histórias que vão terminar

Em primeiro lugar quero dizer que adoro Olimpico.Mas estou fascinado pela Arena.
É o paradoxo.Felicidade pela modernidade.E saudade das histórias de vida no Olimpico.Não consigo imaginar o dia da demolição do Olimpico.
Fui no Olimpico hoje com meu filho P.W
Temos 3 cadeiras.
1 permanente de N.W. (adquirida no longínquo 1953)
2 locatárias de (RW+P.W)
Como a cadeira permanente do Gremio estava no nome do meu  pai e ele estava entre os primeiros adquirentes  tinha o direito de escolher os 3 lugares  juntos.
Não consegui.Não regularizei a situação dele.Ele já é falecido
Tenho que primeiro regularizar a anuência de meus irmãos para tranferir a cadeira do avô para o neto.Para depois proceder a migração.
Ainda está no nome dele.
Amanhã estarei no Olimpico entregando a anuência dos meus irmãos e os atestados de óbitos de meu pai e minha mãe para regularizar os trâmites burocaticos.
Caiu a ficha. hoje.Estou me despedindo de Nelson Wortmann do borderô do Estádio Olimpico.
Toda vez que entrava nas cadeiras do Estádio Olimpico e  passava a cadeira do meu pai (já falecido) no borderô vinha a mensagem ; "Bom jogo Nelson Wortmann".
Era o meu reencontro com o velho e quando subia aquelas escadarias gloriosas fazia a minha viagem ao mundo que não volta mais.
Minha namorada perguntou certa vez: " por que a cadeira está nome do teu pai?"Respondi: " Não tem jeito.É a hora que me encontro com o meu pai"!
Quando fui perguntado hoje pela funcionária da migração : " Porque o senhor não regularizou antes esta situação"?
Não tentei explicar.
É melhor guardar isto no baú das recordações.Vou para o caminho burocrático.É a regra.Vai dar certo

Eduaro Galeano e São Lorenzo
"Gol de Sanfillipo
'Querido Eduardo:
Te conto que dia desses estive no supermercado ´Carrefour´, onde antigamente era o campo do San Lorenzo. Fui com José Sanfilippo, o herói da minha infância, que foi goleador do San Lorenzo quatro temporadas seguidas. Caminhamos entre as prateleiras, rodeados de caçarolas, queijos é résteas de lingüiça. De repente, quando nos aproximamos das caixas, Sanfilippo abre os braços e me diz: ´E pensar que bem daqui meti um gol de bate-pronto no Roma, naquela partida contra o Boca...".Passa diante de uma gorda que arrasta um carrinho cheio de latas, bifes e verduras, e diz: ' Foi o gol mais rápido da história.
Concentrado, como esperando um córner, ele me conta: ' Eu disse ao número cinco, que estreava: assim que começar a partida, manda a bola para a área. Não se preocupe, que não vou te deixar mal. Eu era mais velho e o rapaz que se chamava Capdevlla, se assustou, pensou: ´Se eu não obedecer, estou frito'. E aí, de repente, Sanfilippo me mostra a pilha de vidros de maionese e grita: ´Ele colocou a bola bem aqui!' As pessoas nos olham, assustadas. ' A bola caiu atrás dos zagueiros centrais, atropelei mas ela foi um pouco para lá, ali onde está o arroz, viu só?' -e me mostra a estante de baixo, de repente corre como um coelho apesar do terno azul e dos sapatos lustrosos: 'Deixei-a quicar, e plum'. Dispara com a esquerda.Nos viramos, todos, para olhar na direção da caixa, onde há trinta e tantos anos estava o gol, e parece a todos nós que a bola entra por cim, justamente onde estão as pilhas para rádio e as lâminas de barbear. Sanfilippo levanta os braços para festejar. Os fregueses e as caixas quase arrebentam as mãos de tanto aplaudir. Quase comecei a chorar. O Nene Sanfilippo tinha feito de novo aquele gol de 1962, só para que eu pudesse vê-lo."
 
RW postado as 20:00 horas.